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RESenha

O LIVRO DOS GRANDES ÓDIOS CONTROVERSO, O ESCRITOR MEXICANO FERNANDO VALLEJO USA A VERBORRAGIA E O PANFLETARISMO COMO INGREDIENTES DE UM ROMANCE INDIGESTO HENRIQUE ARAÚJO>>>ESPECIAL PARA O POVO Vencedor em 2003 do prêmio mais importante em língua hispânica, o Rómulo Gallegos, O despenhadeiro , do colombiano naturalizado mexicano Fernando Vallejo, 66 anos, é um romance de feição aberta, explícita e feroz. Seu narrador, cuja voz se confunde dentro e fora do romance com a do próprio autor, leva 169 páginas a desfiar um rosário de imprecações contra a Colômbia, a igreja e, por tabela, o Papa, os políticos, as mulheres que assumiram o poder recentemente naquele país, o narcotráfico, os comunistas, a contemporaneidade, a Internet, os poetas, os rios. Por fim, e não menos raivosamente, o fluxo intempestivo de Vallejo volta-se contra a própria família. Para ele, os genes dos Rendones deveriam ser proibidos por lei de se reproduzirem. Porque, bem medidos, são tão nocivos quanto o vírus ...

Avant la lettre ou o Dia em que fomos Michael Moore

Hoje resolvi escrever. Estou assim. Não sei do que se trata mesmo. Apenas que resolvi escrever. Tivemos uma conversa na hora do almoço. Sentamos, pedimos algumas comidas e bebemos. Foi sério. Falamos do jornalismo. Bem, falamos bem. Mas o mal-estar segue. Uma boa notícia. Ganhamos o prêmio da Associação Cearense de Imprensa por um caderno publicado em 17 de agosto deste ano no jornal O Povo . Não foi na categoria Cultura, como era de se esperar, mas Cidades. Isso mesmo. Nosso caderno dos bairros – seis repórteres visitam bairros estranhos, exóticos e escrevem sobre eles numa perspectiva, digamos, humanizadora (porque não encontro outra palavra) – rendeu um prêmio de cinco mil reais dividido por seis. Menos os descontos. Tudo subtraído, teremos um Natal recheado. Os panetones e champanhes e perus estão garantidos. Vejam, jornalismo dá certo. Dá dinheiro. E ainda rende prêmios que nos põem todo prosa, felizes da vida. Agora podemos desfilar alegremente entre os círculos da cidade, acenar...

WALKABOUT LOCAL

Acabo de ler O despenhadeiro , de Fernando Vallejo. Ótimo livro de Natal. Sério mesmo. Depois vejo Dogville novamente e completo assim o corpo de temperos necessários ao dia. Conjugar essas coisas faz bem, sim. Temos um gato novo em casa. Íamos passando na rua quando a Val viu o felino – frase estranha – encolhido num canto, em frente à guarita de um condomínio a alguns quarteirões daqui. Agachou-se, afagou o animal, que prontamente se levantou e esticou-se com alguma dificuldade. Estava sujo, imundo – ainda está um pouco. E, principalmente, faminto. Comprei uma lata de peixe em pasta – Whiskas – no supermercado que abriu há menos de duas semanas na vizinhança. Custou quase cinco reais. Com a mesma quantia compraria pão para a semana inteira. O gato devorou 2/3 da ração em pouquíssimo tempo. Agora, dorme. Espero que cresça e apanhe os ratos da cozinha. É a paga por ter sido colhido da rua, daquele estado de mendicância. As pessoas iam e vinham, mas ninguém dava bola para o bichano, qu...

CAMARÃO DIAS

Hora do fechamento. Resisti. Resisti bravamente. Não corri. Não bati. Não atirei. Li os jornais furiosamente nas últimas quatro horas. Não faço outra coisa desde que pus os pés da bunda na cadeira e mirei num ponto afixado bem na minha frente que dizia em letras elefantinas: informar-se. Detesto pudor de corretor ortográfico. Mesmo. Pior que o das carolas. Vocês sabem onde se come um bom estrogonofe de camarão ? Não, sim, talvez? Meu pai disse hoje “Meu filho, não existe estrogonofe de camarão”. Sabem, as coisas já não iam bem antes disso. Depois, desandaram... De qualquer forma, preciso descobrir. Eu preciso acreditar. De repente vejo um braço mecânico correndo atrás de mim, escondendo-se quando me escondo apenas para me surpreender logo mais na esquina, um longo e cheio de gingado braço pertencente a uma montadora de automóveis... Ele me persegue. Quer o meu sangue para lubrificar um pára-brisas, uma rosca, um guindaste qualquer... O que faz um braço mecânico a essa hora da madrugada...

BONDE dos AGravados

O que será que será... Acordar com a barriga a mil. A cabeça. A cabeça dói. A cabeça rói. Sói. Gente, que fazer com a cabeça quando ela deixa de funcionar? Que fazer com as pernas quando elas deixam de andar? A perna. Dói. Rói. Sói. Ontem bebi cerveja, sim. Comi camarão, sim. Acordei e bebi chá de casca de laranja. Bom, ando fraco, fraquinho, fracote. E o que têm achado de Capitu ? Eu? Quer dizer, eu quero saber. Sim, não, talvez? Quem sabe... O melhor de Capitu... São, claro, os olhos de Capitu... E Machado de Assis, que criou uns olhos que sequer existem. Porque os olhos de Capitu na televisão não são os olhos de Capitolina no papel. Mas dão pro gasto. Dom Casmurro é ótimo. Michel, já disse isso, é grande. Não haveria Capitu sem Michel. Estado de espírito: monocromático. Sem gosto. Quer dizer, gosto de já ter gostado. Ontem fui, fomos. Ontem vi, vimos. Ontem comi, comemos. Que tal a brincadeira de conjugar verbos vergonhosos, verbos verborrágicos, verbos verdes e fritos? Tenho de fa...

Uma coisa boa ao 10º dia do 12º mês de 2008

O EVANGELHO DO ELEFANTE AS VONTADES MAIS SECRETAS DE UM ELEFANTE QUE, SEM MAIORES RESISTÊNCIAS, É GUIADO – OU GUIA – DE LISBOA A VIENA POR CAMINHOS NEM SEMPRE PLANOS E SOB UM TEMPO NEM SEMPRE BOM A viagem do elefante , novo conto-romance de José Saramago, narra a história de salomão - com inicial minúscula mesmo –, um paquiderme indiano, e o seu tratador, o cornaca subhro, um homem a quem a desventura de ter sido demovido de lugar – de Lisboa para Viena, ainda no século XVI – implicou numa grande e maravilhosa transformação, como que premiada ao fim de uma jornada extenuante. Acompanhando o elefante durante todo o deslocamento entre uma e outra cidade, subhro, que em língua indiana traduz-se por “branco”, vai deparando, ora entendendo, ora não, os vários matizes da vida. Salomão - o animal, não a histórica figura -, presente de João III, então rei de Portugal, ao seu primo, o arquiduque da Áustria Maximiliano II, tem papel de agente catalisador. Sem pronunciar uma palavra – porque não ...

ON/OFF

Sabem o que acontece quando a física e a literatura se encontram? Isto aqui: A diferença mais importante entre matéria e antimatéria é a carga elétrica oposta: se o elétron é negativo, o pósitron é positivo. O antipróton é negativo. Já o antinêutron também tem carga zero, mas outras propriedades suas são invertidas.É como se a realidade tivesse duas faces, cada uma de um lado de um espelho. Quando essas duas realidades se encontram, isto é, quando uma partícula de matéria encontra sua parceira de antimatéria, o resultado é dramático: as duas se desintegram em raios gama, a radiação eletromagnética mais energética que existe. Algo que pode resultar tanto da leitura de Lewis Carrol quanto da de um trato de física quântica qualquer. Até a próxima, gentalha.