Pular para o conteúdo principal

Postagens

À direita, à direita novamente, em seguida vá em frente

PARTE 456 Domingo. Escolhi certo? Resolvi assistir hoje “Império dos sonhos”, de Lynch. Bom, que dizer... Gostei. Vi parte ontem e parte hoje. Dividi o filme em duas lindas metades, duas lindas e fantásticas e grosseiras metades. Ainda assim, saí das três horas emudecido. Apático. Anestesiado. Quis entrar na televisão depois que as letras subiram e a tela ficou totalmente negra. E a música e a dança e Laura Dern foram-se. QUEM DIABOS É DAVID LYNCH?! Sua estrutura é absolutamente assustadora. Sim, o filme é longo, cansativo. Requer bocejos aqui e ali, esticar de pernas, estalar de vértebras, olhos que se esfregam e braços que se coçam impacientes. Fora isso, Lynch é enigma. Depois dele, vácuo. Ver e ver novamente. Gosto de labirintos. Gosto das fatias de tempo, dos vasos comunicantes que jamais se comunicam, das orelhas de burro, da luz, da cor, da textura, do horror. Lynch é horror. Cinema de horror. Porque a realidade é horror. Assistam. Domingo, que seja, mas assistam. Recebi “Breves...

INFORME DISFORME

Cansados de entrar e sair da cabeça de Lindemberg? De se auto-perguntarem: ele atirou antes ou depois? De se lastimarem diante da barbárie, da guerra, do caos, da anomia, da voz fanha daquele apresentador, daquele âncora, daquela repórter, daquele delegado? De se espantarem com o penteado das gentes televisivas, que mesmo na catástrofe preocupam-se seriamente com a imagem? De lançarem a dúvida: caso a polícia tivesse entrado antes... De acharem curioso: por que a escada não chegava até a janela? De acharem trágico: por que o tiro não pegou noutra parte do corpo? De acharem bobo: morre-se por nada. De olharem para o dito e verem estampada na cara a face do Capeta, do Cão, do Diabo, do Bush. Bem, se vocês realmente se sentem cansados, lamentamos informar: talvez o circo ainda se estenda por três ou quatro dias ou ainda uma semana, duas ou dez. Da assessoria.

Uma vida de cada vez, uma vida de cada rês

Do contrário, vejamos. Vejamos como podem se comportar as crianças nessas condições: se deixam escorrer o catarro ou se esfregam as narinas com as mangas da camisa. Vejamos se os meninos mais ricos podem cuspir nos mais pobres do alto da escada e, uma vez lá em baixo, ver a calcinha das meninas, que podem ser pobres ou ricas, tanto faz. Vejamos se os mestres aprendem qualquer coisa vendo Pink & Cérebro. Ou se pelo menos acompanham a programação da TV aberta com suficiente abertura de espírito e disposição para apreender cada escatologia, cada verdade velada e mal-passada, cada fatia de pão duro. Vejamos como a dieta do pão duro cai no estômago da nação. Como o vinho avinagrado adoece os velhos. Vejamos se os pais e os pais dos pais crêem na vida antes da morte e na morte depois da vida. Vejamos se todos os maiores e menores de 18 anos finalmente acordam para o seguinte: aprendemos a matar antes de plantar. Falo por mim. Antes de qualquer coisa, gostava de matar pintinhos. E patinh...

UM META-DISCURSO PSEUDO-AUTO-INDULGENTE or something like that

Expressão-chave: foda-se. Mil perdões: escrevo com sono. Faz tempo enrolo sentado aqui no PC. De frente, nada mais. Na verdade estava esperando que os olhos desgrudassem depois de ter visto três episódios seguidos de “Lost”, mas acabou que eles continuam embaçados. Agora, enxergo as letras como se elas tivessem sido bombeadas através de extensos canudinhos de fumaça e postas bem diante do meu nariz vermelho. Não de palhaço. Fomos aos terminais. Ontem, Conjunto Ceará. Querem saber? Não falamos a mesma língua – eu e os camaradas e nós e os “hostis”. Chamo “hostis” às gentes que costumam freqüentar os terminais não porque em um dia de muito sol e brisa, um dia tipicamente estimulante ao nascimento de idéias geniais e ações politicamente engajadas em qualquer projeto social de mudança para melhor da sociedade – não porque em um dia como esses tenham súbita e encantadoramente decidido ir conhecer os terminas na madrugada, ver como são bonitos, tão cinzas à luz da Lua, tão sombrios e estetic...

Ainda

1979 FOI UM ANO RUIM PROPRIETÁRIA DA ANTIQUÁRIO , BANCA DE LIVROS QUE FICA NA PARQUELÂNDIA, DONA SOCORRO CARNEIRO CONTA COMO, À SEMELHANÇA DO PERSONAGEM CRIADO PELO ESCRITOR FERNANDO SABINO, “FEZ DA QUEDA UM PASSO DE DANÇA” “Por favor, queria só que você acrescentasse uma coisa. Diga que, a cada frango que eu matava, um pedaço de mim morria junto.” Dona Socorro Carneiro de Morais, 66 anos, por telefone horas antes do fechamento da edição de domingo Henrique Araújo>>>Especial para O POVO Fosse um brinquedo, dona Socorro certamente seria um Lego, aquele jogo cujas peças podem formar qualquer coisa, apenas montando-se ou desmontando-se as formas assumidas anteriormente e empilhando-as em seguida para que desenhem o que se queira. Feita de pequenos pedaços de si, um dia Socorro Carneiro de Morais viu seu pequeno castelo vir abaixo. Entre 1979 e 1989, as partes fixas que sustentavam seu mundo foram minadas e, sem forças, ruíram. Com elas, uma vida dividida entre o morticínio de f...

À MEIA-NOITE, NO TERMINAL

Quem ainda não leu, pode ler aqui . Volto até o final do dia. Isso é uma promessa, eu juro. As palavras se me acumulam, os poros se me entopem, os pensamentos se me avolumam como nunca dantes visto. Sou todo domingo. ATENÇÃO: HOJE TEM LANÇAMENTO DA REVISTA CADEIRA COM RODAS E DO DOCUMENTÁRIO O CONTO TORTO DO OLHO , NO TERMINAL DO ANTÔNIO BEZERRA, À MEIA-NOITE. COISAS DERRADEIRAS DO GRUPO TREMA... NÃO FALTEM! E viva Campos de Carvalho! No mais, me contem como foi seu dia, sim?

Notas de um velho sentado

Sabem desta? “Qualquer coisa que se mova é um alvo”. Qualquer coisa. Como já dizia o grandíssimo poeta Chorão, “Eu não sei fazer poesia - mas que se foda”. Caras, caras... Eu não estou lá. Muito menos aqui. Jesus Cristo poderia ter tido isso. Acordei sem fome, nada no estômago, mas inteiramente e epifanicamente sem fome. Logo descobriria: desarranjo. Uma coisa. Gosto de ler isto aqui . Muito. Desarranjo é algo incômodo à beça. Mas fico melhor até amanhã. Pensei que fosse morrer. Pensei que tivesse algo estranho na minha barriga, algo estranho, algo que se move enquanto abrimos lindamente a porta da geladeira e retiramos de lá um copo de leite. Leite do dia anterior. Pensei que contivesse nas minhas entranhas a nuvenzinha negra que passeia matando as pessoas numa ilha qualquer abaixo de tudo que jamais intuímos. Pensei que só agora o giz que engoli na terceira série houvesse começado a se manifestar. Só agora, tanto tempo depois, ele tivesse passado a riscar as paredes do estômago, inun...