Domingo. Escolhi certo? Resolvi assistir hoje “Império dos sonhos”, de Lynch. Bom, que dizer... Gostei.
Vi parte ontem e parte hoje. Dividi o filme em duas lindas metades, duas lindas e fantásticas e grosseiras metades. Ainda assim, saí das três horas emudecido. Apático. Anestesiado. Quis entrar na televisão depois que as letras subiram e a tela ficou totalmente negra. E a música e a dança e Laura Dern foram-se.
QUEM DIABOS É DAVID LYNCH?!
Sua estrutura é absolutamente assustadora. Sim, o filme é longo, cansativo. Requer bocejos aqui e ali, esticar de pernas, estalar de vértebras, olhos que se esfregam e braços que se coçam impacientes. Fora isso, Lynch é enigma. Depois dele, vácuo. Ver e ver novamente. Gosto de labirintos. Gosto das fatias de tempo, dos vasos comunicantes que jamais se comunicam, das orelhas de burro, da luz, da cor, da textura, do horror. Lynch é horror. Cinema de horror. Porque a realidade é horror.
Assistam. Domingo, que seja, mas assistam.
Recebi “Breves entrevistas com homens hediondos”. Li três contos. Talvez os três melhores contos da minha vida. Claro que exagero.
O que acham das partículas subatômicas? Particularmente, do bóson Higgs? Estou em dúvida. Ele realmente fez diferença? Se havia equilíbrio entre matéria e anti-matéria, como surgiu Higgs e por quê? Quem o criou? Afinal, do que se trata a assimetria espontânea?
FRAÇÃO 2343 / *###
Acho que a produtora de “Império dos sonhos” chama-se exata e curiosamente “Assimetria”.
Voltando. Antes, o equilíbrio. Até a chegada do bóson Higgs. Pelo que entendi, ele mudou a cena, transformou a partida, colocou pimenta num chá de domingo. Higgs é o responsável por estarmos aqui hoje, conversando, tomando café, domesticando uma ressaca, vendo TV, baixando pornografia da Internet, batendo papo, namorando, lendo artigos chatos sobre a crise econômica e investigando algum tema para pesquisa. Sei lá, ele é nosso pai espiritual. Dele viemos e a ele voltaremos.
Adoraria voltar ao segundo imediatamente anterior ao, vocês sabem, boom galáctico. Mas não. Estou aqui. E não há qualquer ilha por perto.
Vejam como são as coisas. Tudo tem alguma ligação. Os ETs, Lynch, Foster Wallace e o bóson Higgs. O menino que bate tambor na rua pode não suspeitar, mas seus cordames vitais dependem menos do resultado do clássico local do que do próximo trabalho do diretor norte-americano. Ou da existência ou não dos bósons.
Ontem foi dia de sorvete. Podia ter reduzido meu déficit para 48 sabores desconhecidos. Preferi apostar no seguro, no conhecido. Tomei chocolate. Experimental, minha esposa pediu crocante de castanha. Se deu muito mal. Da próxima vez vou exigir que minha bola fique em cima. Porque assim não corro o risco de ter uma bola de gosma apinhada de castanhas bloqueando o meu prazer dominical.
Entendam: compramos sempre a promoção: duas bolas por R$ 5,5. As bolas são grandes, valem o preço.
MÓDULO 14 (PORTUGUÊS)
“A escada está cheia abaixo de você. Empilhados, todos separados por alguns degraus. A escada é alimentada pela sólida fila que se estende para trás e curva-se no escuro da sombra em ângulo da torre. As pessoas estão de braços cruzados na fila. Os que estão na escada sentem dor nos pés e estão olhando para cima. É uma máquina que só anda para a frente” (trecho do conto “Para sempre em cima”, de DFW).
Acabo de ler aqui. De David Lynch sobre “Império dos sonhos”, seu mais recente filme: “É a história de uma mulher com problemas”.
QUEM VAI SER CAMPEÃO DE F-1 NESTE ANO? Outra pergunta impõe-se, por absoluta falta do que fazer: o que é a Ilha? SIM, A ILHA.
Não sei. Bom, o que há são apenas suposições. Uma falha geológica criou uma espécie de anomalia eletromagnética que envolve o lugar, que passou a abrigar fenômenos estranhos. Essa é a hipótese mais rasa. Banal, dir-se-ia. Outra: a ilha é totalmente mecânica. Sim, um objeto manufaturado, um campo artificial de experimentos. Como movê-la se a interferência humana em sua lógica não fosse significativa? São perguntas que me faço antes de ver os dois últimos capítulos da temporada 4.
De vez em quando, leio isto aqui. Pena demorar tanto a ser atualizado.
Sabem, estou aperreado. Meu juízo não é mais o mesmo de três anos atrás. Tenho coisas a resolver, metas a alcançar, etapas a cumprir – mas não consigo sair do lugar. Uma força gravitacional contrária, inimiga, me empurra para bem longe dos meus alvos. Suponho ter sido considerado “persona non grata” nos reinos vegetal e animal.
Falando nisso: ouvi dizer que esses reinos foram extintos nos livros mais recentes de biologia? É verdade? O que puseram no lugar deles? Estou muito curioso para saber a que categoria pertenço. Se mudei, se fui rebaixado, se ascendi – coisas do tipo. De repente passei a ser chamado os Demiurgos de O GRANDE PROTOZOÁRIO FALANTE ou O INCRÍVEL E INDÓCIL CELENTERADO CÉLERE.
Voltando aos objetivos. Preciso rever a minha agenda. Comprar uma, anotar as coisas e revê-la. Sabem quando os dias soam estranhos, coloridos demais ou calmos demais? Quando as horas se passam exatamente como as do dia anterior? Não? Esperem. Vou pegar um livro ali na mesa para ilustrar.
Voltei. Chama-se “Celular”. Eis a epígrafe:
TAKE 9:
“ENTÃO UM DIA SE SEGUIU AO OUTRO SEM QUE AS QUESTÕES FUNDAMENTAIS DA VIDA TIVESSEM SIDO SOLUCIONADAS”.
Bonito, né? Não apenas bonito. É profundo. Não apenas profundo, é dolorido. Sabem o que é ler isso todas as noites antes de dormir?! Nem eu. Durmo antes, sem calafrios.
Ontem saímos e comemos e bebemos e sorrimos e gargalhamos juntos, Família & Eu. Nós, irmãos e respectivos parceiros. Pedimos camarão. O restaurante estava cheio à beça, uma coisa. Lotado. Tinha uma mesa sobrando bem no meio da confusão. Fiquei intrigado, “O que faz aquela mesa bem no centro da baderna, da zoada, da turba ensandecida como dizem uns?”
A) Está suja;
B) Alguém se matou ali dois anos atrás e agora a mesa tem fama de mal-assombrada;
C) Embora nada indique isso, está reservada;
D) Fica num “ponto cego” do salão do restaurante. Portanto, nada nem ninguém freqüenta aquele cantinho, e os radares pensam que ali só existe oxigênio e algumas partículas de sujeira;
E) Serve como rota de fuga para garçons que são apanhados clonando os cartões dos clientes. Debaixo dela, há uma portinhola cuja extremidade dá no terminal do Conjunto Ceará.
Fiquei intrigado e receoso. Temeroso. Mas sentamos. E não havia nada lá nem ninguém. Ao lado, um casal cochichava no ouvido do outro enquanto na mesa o peixe servido na casca esfriava. Três ou cinco mesas atrás de mim haviam sido graciosamente encostadas umas às outras. Ao redor do grande estirão de madeira forrada com lindas toalhas verde-musgo que se formou com a junção das pequenas peças, uma grande e linda família de classe média. Tinha criança, tinha avô, tinha avó, tinha pai, tinha mãe, tinha filho, tinha neto, tinha agregado, tinha sogra, tinham tudo que se possa imaginar.
Achei o lugar maravilhoso. Sério. O arroz de camarão servido no panelão, a cerveja gelada, o garçom levando e trazendo recadinhos escritos numa caligrafia bêbada.
Até breve. Agora vou ler o segundo volume de “Epiléptico”. Licença para deixar a sala de cirurgia.
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