Seguíamos viagem de volta, sempre mais distraídos do que na ida, quando uma multidão se avistou no alto da estrada. Pensei em acidente, morte, atropelamento, e quase virava o rosto para não flagrar uma perna ou braço para fora de uma coberta, essas cenas que aterrorizam.
Mas detive o olhar, demorei a sair, fiquei ali com a vista para fora. Procurava entender o que se passava no acostamento. Um homem manejava a faca, o couro do boi já de todo cortado rente à carne, sem desperdício. A barriga volumosa, a cabeça derreada sobre o tracejado da via.
A cena tão ligeira. O golpe certeiro, quanto renderia aquele boi? Ou seria vaca?
Me pergunto como morrera, se o tinham matado porque o viram solto, sem dono, ou se um caminhão o havia colhido na estrada. Se o tinham encontrado agonizando e terminaram de acabar com o animal.
Não sabia, quis descer do carro, mas era a volta, e na volta sempre desejamos chegar o mais depressa possível. Mal paramos para comer, a paisagem da estrada andando em velocidade, as ultrapassagens se sucedendo, já perdido de todo o medo, intuímos que algum movimento nos faz mais ligeiros e salvos para voltar à casa.
Li em qualquer lugar que os acidentes costumar ocorrer com mais frequência nos retornos, quando nos pomos mais imprudentes, nos livramos das amarras e suspendemos as preocupações.
Não sei que preocupações pode ter um boi naquelas terras, se andava a esmo quando foi abatido. As colisões com animais são costumeiras naqueles trechos de estrada, de resto muito perigosos, os assaltos relatados como coisa rotineira.
Talvez atravessasse a via, o trote calmo do bicho que não conhece a estrada e não sabe que o estirão é arriscado, a travessia não se faz assim sem temor. O boi talvez não soubesse.
De repente, o encontro do boi com a morte, no meio do sertão, num dia como aquela quarta-feira. Era uma tarde? A temperatura passando dos 35 graus, sei disso porque, adiante, o pneu rasgou, e estivemos por meia hora parados também no acostamento, apenas alguns quilômetros distantes de onde tinha avistado o animal.
Pensava agora se tinham terminado, o que restara do boi perdido. O grupo em derredor mais assistindo que auxiliando, talvez na expectativa de que levassem um naco pra casa, o boi alimentaria então umas quantas famílias.
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