A natureza
da sonda, de qualquer sonda, espacial, gástrica, genética, de perfuração, não é
tão diferente da nossa, projetada para coletar informações em ambiente estranho,
por vezes adverso, resultado de anos de trabalho de grupo esmerado de
cientistas, fruto de altos investimentos dos governos, símbolo de poderio que
remonta à guerra fria, o que faz a sonda sonsa?, perde-se nos detalhes, dedica
mais tempo às miudezas que à procura por formas de vida, no solo marciano por
exemplo a Curiosity não uma nem duas, mas três vezes fotografou-se à beira
de alguma depressão, penhasco, as fotos chamam a atenção muito mais pela beleza
que pelo valor científico, à Curiosity curiosamente interessam bem mais os
acidentes geográficos, a extensão das ruínas naturais, a profundidade dos
cânions, sobre outro qualquer assunto de interesse coletivo, como a
possibilidade de haver alguma reserva de água potável no planetinha, ainda não emitiu nenhum
parecer a sonda Curiosity, fato que na comunidade científica internacional tem
gerado algum desconforto e nas redes sociais, parco murmúrio de leigos como eu.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...