A natureza
da sonda, de qualquer sonda, espacial, gástrica, genética, de perfuração, não é
tão diferente da nossa, projetada para coletar informações em ambiente estranho,
por vezes adverso, resultado de anos de trabalho de grupo esmerado de
cientistas, fruto de altos investimentos dos governos, símbolo de poderio que
remonta à guerra fria, o que faz a sonda sonsa?, perde-se nos detalhes, dedica
mais tempo às miudezas que à procura por formas de vida, no solo marciano por
exemplo a Curiosity não uma nem duas, mas três vezes fotografou-se à beira
de alguma depressão, penhasco, as fotos chamam a atenção muito mais pela beleza
que pelo valor científico, à Curiosity curiosamente interessam bem mais os
acidentes geográficos, a extensão das ruínas naturais, a profundidade dos
cânions, sobre outro qualquer assunto de interesse coletivo, como a
possibilidade de haver alguma reserva de água potável no planetinha, ainda não emitiu nenhum
parecer a sonda Curiosity, fato que na comunidade científica internacional tem
gerado algum desconforto e nas redes sociais, parco murmúrio de leigos como eu.
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por