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Falou e disse

Falando nisso, pensei em escrever sobre o Dia das Crianças, data especial criada por motivo que agora mesmo não me ocorre nem provoca o bastante a ponto de me fazer querer abrir outra janela no Chrome, dar um Google (logo adaptada, fofíssimo que só vendo) e descobrir o que de fato quer dizer o Dia das Crianças, quando foi instituído e por que dar presentes tornou-se imperativo nesse dia específico do calendário. Mas tergiverso, visto que o objetivo inicial era, não falar de crianças, mas dos livros que tenho por cá empoleirados na mesa feito pequenos montes de coisas acumuladas ao longo de eras, tais como Homem em queda , Uma fração do todo e Diário da queda , este sem qualquer relação com o primeiro embora ambos tratem de um tipo especial de queda. Recomendo os três com o mesmo vigor preguiçoso com que recomendei três livros no mês de setembro, a saber, Método prático da guerrilha , Meus prêmios e Em trânsito . Seis obras formidáveis. Até pretendia falar detidamente sobre Em trânsito...

Quem matou os peixes?

Eram 10 peixes: um lápis, um branquelo maiorzinho que passei a chamar de Moby, quatro miúdos bem finos com listras coloridas longitudinais, uma dupla de dourados e outros dois que agora, infelizmente, não consigo lembrar. Porque faz mesmo algum tempo que todos eles morreram, à exceção de um dourado, que vive debaixo da ponte de mentirinha e quase nunca sai de lá. A ponte fica no fundo do aquário que, junto com a dezena de peixinhos, ganhei de presente de aniversário há três anos. É pequena, mas, durante o dia, quando a janela permanece aberta e um bocado de luz entra no quarto, a sombra projetada sob a ponte acaba virando uma espécie de esquina mal iluminada. Está a poucos centímetros da garrafa com mensagem e da touceira verde de plástico com flores vermelhas (nunca gostei de mergulhadores submersos presos a um cabo). Resumindo, se pudéssemos imaginar o aquário como uma metrópole, aquele seria o ponto ideal para que criaturas marginais e exageradamente enigmáticas se encontra...

Presente em fim de tarde (passeio III)

De repente sorriso na esquina da Heráclito Graça com outra rua que não lembro, mas lembro do sorriso e do que o antecedeu, olhando-a na cadeira de rodas, num canto da ampla área de recreação do condomínio de apartamentos antigos, cada morador mais velho que os baobás todos juntos. Era uma senhora, é uma senhora, sobre isso não resta dúvida. Anda na cadeira de rodas, mas estava parada, e sorria esticando o olhar em direção ao outro lado da avenida, imaginei prontamente. Pretende quem sabe tentar alcançar aquele tempo antigo, mocidade, normalistas retornando da escola, namoricos, mãos que se esfregam à sorte dos movimentos, em seguida casamento, filhos, a viuvez repentina, a vida antes e depois do acidente? Todavia pode não ser, não ter sido, nem vir a ser nada daquilo. E fomos em frente, sempre teorizando acerca, sempre conjecturando um mil e um modos para a mulher na cadeira de rodas que fixara no rosto o sorriso e dele não se desgarrava nem por morte ou doença e somente à noss...

Parede com retrato (passeio II)

No caminho há tanta coisa que, quando menos se espera, caminhar torna-se exatamente seu oposto, que é não caminhar, de tanto que se para a cada passo dado, de tanto que se olha por entre janela e porta e brecha de portão, bem mais que desníveis de rua e irregularidades de calçada. A vida alheia, vida dos outros, vida de quem não se imagina semelhante, proximidade de meia parede, parede e meia, então é o susto um susto? É o susto, do susto se vive boa parte do tempo e ainda bem que é assim do contrário, vejam só, em não havendo o susto, aquela casa do lado da sombra toda repleta de porta-retratos, ela disse é desse jeito que é na casa da mãe, ela gosta de espalhar retratos da gente quando éramos todos pequenos e brincávamos juntos no quintal, na área, em qualquer lugar que fosse, esses retratos estão por todo canto, a evolução de uma franja aparada, a permanência das covas no sorriso, a emergência de um nariz mais arredondado, a altura ganha dos 11 aos 14 que, de repente, estaca. ...