PARTE I Não sem razão, lembrou, a vida naquele tempo era estranhamente complexa, havia a namorada, antes dela eram as paixões de infância e antes ainda não era nada. Havia os irmãos, os primos, as primas, os amigos, a escola, os estudos, o SNES, a TV, o São Paulo, a mãe, o pai, o cachorro, um pé duro chegado ainda filhote que levaria de um bairro a outro por dois anos e meio até que, numa dessas paradas, a 13ª, quem sabe, o cachorro resolvesse que era o bastante, e foi. Perguntar a avó o que se deu com ele, se morreu, sumiu, acha que desapareceu porque, cavoucando a memória de agora, não consegue encontrar qualquer sentimento pesaroso relacionado à perda do animal, um cachorro querido, um dos poucos a que dedicou parcela de carinho e tempo. O cachorro simplesmente foi embora, está certo disso. PARTE II Cogita, talvez houvesse mais que agora. Havia a turbulência de estar no meio enquanto olhava pros lados e também pra frente, sem entender ao certo aonde as coisas levariam, o qu...