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I can't call it for you

É proibido dançar

J ovem sem sonhos procura emprego dos sonhos, que pague bem, tenha café em abundância e ocasionalmente permita aos funcionários deixarem a terra, o globo, o sistema solar e atingirem as galáxias mais distantes, aquelas cuja superfície é uma piscina de água salgada, sem mais informações, sem enviar sequer um torpedo informando da ausência prolongada, tendo como justificativa para tamanha benfeitoria apenas a remota teoria segundo a qual o ano sabático possui o condão de multiplicar por três a produtividade dos funcionários que retornam. Apenas dos que retornam, claro.

É uma beleza essa coisa toda

Era pra ser uma carta, um documento que atestasse cabalmente que a situação é das mais difíceis, nosso desembarque na Normandia não obedeceria os mesmos padrões do anterior, o mar antes quieto feito batente de janela não está pra peixe, talvez nunca tenha estado, é verdade, mas acontece que durante muito tempo acreditamos que valeria a pena nadar até o outro lado da costa, as braçadas cada vez mais fortes, as dela um tanto destrambelhadas, as minhas respeitando os cinco anos de natação na adolescência, de todo modo braçadas sincronizadas, respiração e força muscular em conformidade com o restante, e isso foi realmente algo bacana, algo bonito de se ver e que podíamos destacar na gente com uma ponta indisfarçável de orgulho: Saca isso, é muito bom! Era pra ser uma nota explicativa, dessas que povoam dissertações, monografias e teses, uma nota de rodapé que trouxesse informações extras como os extras dos filmes acrescentam uma ou outra coisa interessante ao que acabamos de ver na tel...

Modos de falar

MINHA GERAÇÃO está em marcha. Aos bocados, jovens infantes Eduardos e Isabelis e também Ricardos e Anas saem de casa e ganham as ruas com um punhado de ideias que deverão ser prontamente defendidas em ringue público, praças, avenidas litorâneas e defronte às sedes de governos, de preferência sedes de governos autoritários cuja obra fundamente-se na ação contra os direitos civis de minorias, tais como negros, gays, mulheres (?) etc., ou, em caso negativo, quando esses governos se mostrem razoavelmente amáveis no trato cotidiano com as minorias citadas, podendo mirar-se nas ações gerais, administrativas ou não, como política externa, escolha de ministros, compra de deputados e por aí em diante. PERSISTINDO O IMPASSE , se nenhum desses aspectos merecer nota depreciativa, sendo, ao contrário, fator de rara graça e expectante glória nacional, sugere-se (nossas fontes são as mesmas de Donatello, Barbara e Spiniel) a abrangência irrestrita da crítica, devendo o protestante entender que o ...

Prateleiras

O supermercado me interessa. As prateleiras, os caixas, as filas, o carrinho de compras, as revistas presas por elásticos nas gôndolas, os bombons largados em cima de toalhas, as pilhas do tipo AAA, os refrigerantes, os sucos de laranja e as TVs de tela plana, as bicicletas, a borracha dos pneus, os desinfetantes e as sanduicheiras. Tudo me interessa, tudo convoca, e por convocar entendam convidar a que qualquer possibilidade transija e suceda bem diante de nossos narizes. Tudo poreja, tudo inspira e expira, mas, a um segundo olhar, tudo definha e se esvai. Tudo é fraude, tudo é lama e linguiça toscana. De modo geral, paro de olhar antes de chegar a esse ponto crítico. Posso parecer decidido, não sou, e desconheço igualmente as razões que me movem até lá e, estando lá, fazem querer permanecer por uma fatia de tempo fora do comum, um estirão de minutos que mesmo a dona de casa mais afetuosa e dedicada julgaria por certo exagerado, visto que há coisas no seu próprio lar que necessita...

A antiguidade da gente

Talvez não seja absolutamente necessário acostumar-se às paisagens, digo não necessário, mas natural, e isso acaba ocorrendo mesmo quando não se deseja. Penso no terreno baldio, nas casas que cercam, nas vizinhas e nos vizinhos, no choro do menino, nos pássaros e no som dos motores que cortam a avenida em direção ao centro da cidade, e penso também que nada disso integrava a paisagem de ontem e que talvez não faça parte da de amanhã, penso que logo ao chegar esse carnaval de vida estranha atiçava a gente, provocando também uma porção bem boa de tristeza. E o curioso nasce mesmo dessa disposição contrária presente em qualquer coisa, duas forças morando o corpo, duas vontades indispondo-se em um mesmo rancho de sentimentos. Uma que quer ir, outra que deseja voltar. Quando cheguei aqui, quis voltar imediatamente. Logo descobri: era a paisagem, essa coisa abominável que me assusta de tão desigual que é, que repele o que trouxe, condena o feito, o possuído, uma paisagem em riste, belige...