Pular para o conteúdo principal

Postagens

Amazing stories*

* Clique nos links com o botão direito e peça, por favor, uma nova aba. Grata: a Gerência . Difícil mesmo foi conciliar aquele pensamento ainda no café, o pensamento que era o sonho. Zumbis , sexo, mais não lembrava, apenas que era acossada numa escadaria por uma mulher que tinha cinco ou seis pernas e que percorria rapidamente as distâncias sem saltar degraus, arrastando-se, e aquilo era a representação de tantos filmes horrendos que já havia assistido antes, sabia disso em fração de segundos, e essa consciência, diria uma superconsciência, era a melhor coisa dos sonhos, então havia um lado ruim, o medo, e um lado bom, o poder de fazer o que quisesse. Era como a moral da história no final dos desenhos animados dos anos oitenta, quando o Príncipe Adams voltava ao começo do episódio e, a partir de momentos tensos e representativos, explicava alguma doutrina, falava do bem e também sobre como o Esqueleto podia ser um cara com profundas carências afetivas recalcadas naquela relação, ...

Um problema

PESSOAS QUE VIVERAM processos semelhantes reagiram de maneira diversa, deixando para trás o que lhes desagravada, guardando o que fosse bom e, entre idas e vindas, seguindo em frente. É o que qualquer um faria. É o que deveria tomar como caminho óbvio, natural, o caminho do bem: viver, depurar, guardar, assentar, intervalo, e recomeça “viver, depurar” etc., e assim uma porção de coisas estaria finalmente resolvida e eu estaria livre para viver outra porção de coisas. MAS TENHO A IMPRESSÃO de que uma dessas etapas é defeituosa quando penso em minha trajetória particular, e não me refiro a toda trajetória, a estrada que percorri desde o nascimento até o dia em que completei 23 anos. Penso em um momento específico, rigorosamente situado no tempo e no espaço, um instante que identifico claramente quando me volto ao passado e percebo “vejam, lá está ele, vejam como sorri, é um encanto, concordam?”, e todas as minhas amigas balançam a cabeça afirmativamente, e mesmo minha mãe, que dev...

Paradigma Beltrão-Sabatella

I . Café da manhã ERA NATURAL que se apaixonasse por Andrea Beltrão, mas não o contrário. Tanto que, a certa altura, embora ainda fosse caído por ela, e entendo por caído uma total devoção de afeto geminada com indisfarçável vontade de saber-lhe fatos da vida, repito: embora ainda fosse lato sensu caído, Andrea não era por ele, no que, presumo, não haja lá grandes surpresas. Ocorre que assim permaneceram por muito tempo. Na verdade, estão nesse pé até hoje, quando, mesmo alimentando sentimento igualmente denso, diria mais que denso, o sentimento é irreprimível e cheio de uma pureza incomum em dias de relacionamentos cujos marcos regulatórios são brevidade e superficialidade (ver Bauman), ele encontre razões para deixar provisoriamente de lado esse brinquedo, e aqui me refiro ao amor impossível, e dedicar-se a algo que o faça verdadeiramente feliz, e nesse trecho especial me reporto ao amor plenamente possível. Clara oposição de ideias que não dilui a complexidade, só a expõe. ...

Bang Bang

SEM ÁGUA NO FIM DO TOBOÁGUA Panóptico Está sentado e finge desafetação quando na verdade é apenas mais um afetado na livraria. Tem um livro nas mãos, Gonzos e Parafusos , aquele de capa lustrosa, branca, com título em alto relevo, cuja autora passou dias enfurnada num cubo branco sendo alimentada por amigos e familiares. Sabe disso porque leu nas páginas dos cadernos de cultura. Viu Rubem Fonseca estendendo a mão num gesto falsamente caridoso. Acompanhou o debate estéril que se seguiu ao happening. Hoje, quem se lembra? Veste camisa de mangas compridas dobradas na altura do cotovelo, calça jeans e sandálias de couro. Está sentado no sofá da livraria. Fica rente à escada que leva ao pavimento de DVDs e CDs. O pavimento jamais freqüentado. Porque ele é um homem das letras, não da música, e sente orgulho de pertencer a esse universo. É algo distintivo, como a marca de Caim. Ali, enquanto sente leve incômodo sempre que alguém sobe os degraus da escada e faz o sofá trepidar, assist...

A musa da macharada

NOTA>>> E foi assim, dissertando sobre o borogodó do deputado federal potiguar & escritor & galã legislador Fábio Faria, que marquei estréia nas páginas da revista querida Playboy (edição de março, Michelly na capa). O texto foi publicado na seção Happy Hour , que trabalha humor e jornalismo autoral. Comprem a revista, leiam a matéria, vejam as fotos, que estão lindas. Façam o que não fizeram na adolescência sempre que dispunham de uma Playboy nas mãos. Abaixo, a íntegra da marmota. O QUE FÁBIO FARIA TEM? Henrique Araújo Peguem a cabeleira basta de Andrea Pirlo, galã e meio-campista da seleção italiana. Em seguida, acrescentem a sensualidade de um Ricky Martin cuja imagem de macho alfa não tivesse sido arranhada nem um milímetro depois da ruidosa admissão pública: “Eu sou”. Finalmente, levem a mistura ao forno, mas não sem antes incluir na receita o charme e a fotogenia do espanhol Javier Bardem. Conseguiram imaginar? É evidente que o deputado federal potiguar Fá...

O clima de paquera e azaração

FATOS DA SEMANA FATO 1 Era a mesma história, tinha essa certeza toda completinha que temos durante as madrugadas. Era a mesma história, repetiu, mas agora deslocada no tempo e no espaço por um roteirista que soubesse de antemão, “o público necessita ração similar à que costuma pôr goela abaixo diariamente”, cogitou sabendo-se meio frankfurtiano, que é um modo de dizer mais ou menos assim: uso um jargão político para demonizar cujas referências, não lidas, é verdade, sequer entendidas, posso enumerar. Como se dissesse: eu, o inimputável. Bom, e daí? FATO 2 De maneira, deixe-me ver, acentuadamente cômica, levantou-se da cadeira e a convidou para dançar, e fez isso com um jeitinho de cabeça, aquele meneio que somente duas pessoas imersas de corpo&alma em processo de aguda erotização visual, esse estágio imediatamente posterior ao do entendimento febril e assertivo e que antecede o lado dialógico da coisa em si, a coisa em si conforme estudo breve mas profundo sendo ela mesma au...

Microensaísmo de quinta

O INTELECTO CONTRA O BAIXO ASTRAL Francis Santiago É fato: a imagem do programa de polícia comunitária Ronda do Quarteirão não é mais a mesma. Se antes os PMs-delleuzianos ganhavam coxinhas, porções de baião com queijo, enroladinhos de salsicha e outros acepipes em várias cadeias de lanchonetes e churrascarias da periferia de Fortaleza, agora são tratados a pão e água. Tudo fruto dos recentes destrambelhos dos homens da farda azul-bebê, desenhada por Lino Villaventura num momento de extremo deleite intimista, mas sem qualquer preocupação com a moral da força policial frente à viril bandidagem. É fácil entender por que uma parcela dos jovens soldados do Ronda, que deveriam substituir a beligerância priápica dos antigos policiais por uma abordagem que conjugasse a maciez do colo materno à rígida educação paterna, caiu, senão no descrédito, num limbo escuro e frio. Não foi da noite para o dia, nem de uma hora para outra. Tampouco atingiu a totalidade da corporação, que ai...