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CAMARÃO DIAS

Hora do fechamento. Resisti. Resisti bravamente. Não corri. Não bati. Não atirei. Li os jornais furiosamente nas últimas quatro horas. Não faço outra coisa desde que pus os pés da bunda na cadeira e mirei num ponto afixado bem na minha frente que dizia em letras elefantinas: informar-se. Detesto pudor de corretor ortográfico. Mesmo. Pior que o das carolas. Vocês sabem onde se come um bom estrogonofe de camarão ? Não, sim, talvez? Meu pai disse hoje “Meu filho, não existe estrogonofe de camarão”. Sabem, as coisas já não iam bem antes disso. Depois, desandaram... De qualquer forma, preciso descobrir. Eu preciso acreditar. De repente vejo um braço mecânico correndo atrás de mim, escondendo-se quando me escondo apenas para me surpreender logo mais na esquina, um longo e cheio de gingado braço pertencente a uma montadora de automóveis... Ele me persegue. Quer o meu sangue para lubrificar um pára-brisas, uma rosca, um guindaste qualquer... O que faz um braço mecânico a essa hora da madrugada...

BONDE dos AGravados

O que será que será... Acordar com a barriga a mil. A cabeça. A cabeça dói. A cabeça rói. Sói. Gente, que fazer com a cabeça quando ela deixa de funcionar? Que fazer com as pernas quando elas deixam de andar? A perna. Dói. Rói. Sói. Ontem bebi cerveja, sim. Comi camarão, sim. Acordei e bebi chá de casca de laranja. Bom, ando fraco, fraquinho, fracote. E o que têm achado de Capitu ? Eu? Quer dizer, eu quero saber. Sim, não, talvez? Quem sabe... O melhor de Capitu... São, claro, os olhos de Capitu... E Machado de Assis, que criou uns olhos que sequer existem. Porque os olhos de Capitu na televisão não são os olhos de Capitolina no papel. Mas dão pro gasto. Dom Casmurro é ótimo. Michel, já disse isso, é grande. Não haveria Capitu sem Michel. Estado de espírito: monocromático. Sem gosto. Quer dizer, gosto de já ter gostado. Ontem fui, fomos. Ontem vi, vimos. Ontem comi, comemos. Que tal a brincadeira de conjugar verbos vergonhosos, verbos verborrágicos, verbos verdes e fritos? Tenho de fa...

Uma coisa boa ao 10º dia do 12º mês de 2008

O EVANGELHO DO ELEFANTE AS VONTADES MAIS SECRETAS DE UM ELEFANTE QUE, SEM MAIORES RESISTÊNCIAS, É GUIADO – OU GUIA – DE LISBOA A VIENA POR CAMINHOS NEM SEMPRE PLANOS E SOB UM TEMPO NEM SEMPRE BOM A viagem do elefante , novo conto-romance de José Saramago, narra a história de salomão - com inicial minúscula mesmo –, um paquiderme indiano, e o seu tratador, o cornaca subhro, um homem a quem a desventura de ter sido demovido de lugar – de Lisboa para Viena, ainda no século XVI – implicou numa grande e maravilhosa transformação, como que premiada ao fim de uma jornada extenuante. Acompanhando o elefante durante todo o deslocamento entre uma e outra cidade, subhro, que em língua indiana traduz-se por “branco”, vai deparando, ora entendendo, ora não, os vários matizes da vida. Salomão - o animal, não a histórica figura -, presente de João III, então rei de Portugal, ao seu primo, o arquiduque da Áustria Maximiliano II, tem papel de agente catalisador. Sem pronunciar uma palavra – porque não ...

ON/OFF

Sabem o que acontece quando a física e a literatura se encontram? Isto aqui: A diferença mais importante entre matéria e antimatéria é a carga elétrica oposta: se o elétron é negativo, o pósitron é positivo. O antipróton é negativo. Já o antinêutron também tem carga zero, mas outras propriedades suas são invertidas.É como se a realidade tivesse duas faces, cada uma de um lado de um espelho. Quando essas duas realidades se encontram, isto é, quando uma partícula de matéria encontra sua parceira de antimatéria, o resultado é dramático: as duas se desintegram em raios gama, a radiação eletromagnética mais energética que existe. Algo que pode resultar tanto da leitura de Lewis Carrol quanto da de um trato de física quântica qualquer. Até a próxima, gentalha.

O PAradigma FlyNN

“Todos sabemos o que é a escuridão. Nós a carregamos dentro de nós” – acabo de ler. A frase parece boba. É falsamente boba. Ou, falsamente falsa boba. Eu não sei o que é a escuridão. Nem a claridade. Muito menos o lusco-fusco. O não estar estando. Não achar achando. Não gosto de frases repletas de sentidos, sabem? Gosto de clareza. Dizer: ninguém sabe o que é a escuridão. Ninguém sabe quando e onde daremos com os burros n’água. A escuridão é o falso paradoxo, a obra inacabada, a desconstrução contínua de uma... De uma noz. Dei uma pausa nas leituras. Por enquanto. Estava ficando sufocado. Não entendo isso. Como se tanto mundo sufocasse, tanto mundo, tanto. Tanta vida. Tanta cor. Excesso. De palavras. Uma curva no rio, um elefante, assassinos, um suicida. Está bem. O que tudo isso quer mesmo dizer? Absolutamente nada. Apenas que estou cansado. Viver é uma partida sem fim. Por exemplo: quando estou cansado de matar terroristas, aponto o cursor do mouse e clico na palavra “Quit”. A vida n...

VOC E MEVI U ON TE M M AS E UN AO

Fico feliz quando consigo passar um café realmente no ponto, nem muito amargo nem muito doce. Nem forte, nem fraco. No ponto, sim. Quatro xícaras de um café perfeito. Tanta coisa, tanta coisa – e eu aqui, me expondo. Sabem, leiam isto . Acho que vale. Sim, olhando bem, lendo bem, vendo bem, sacando bem – vale alguns minutos de leitura. Vale todo o tempo que vocês puderem dedicar. GRANDE DEBATE – EM PAUTA, DEUS E OS BIG MACS Deus é uma idéia. Nesse ponto, concordo com Saramago. Mas, Deus é mesmo uma idéia? Deus é inconcebível. Não entra na cabeça. Se fosse exeqüível, haveria uma equação para explicar Deus como havia uma para explicar os buracos negros quando os buracos negros sequer existiam. Ou seja, mesmo quando algo é improvável, a ciência consegue prevê-lo ou pelo menos intuí-lo. Até mesmo apontar o seu pequeno instrumento – sem conotações sexuais – na direção certa e sentir a presença estranha de um convidado inesperado. Porque é natural que tudo possa ser explicado de alguma form...

Run, Fun, Gun, Sun

Tanto tempo. Vi “Burn after reading”. O que achei? Bom, achei que o humor negro sai perdendo. Quando ele chega, surpreende. As pessoas no cinema se assustaram. Entreolharam-se. Não esperavam nada do que viram. Explico: uma coisa é ser previsível. Não é o que estou pedindo. Outra diferente é pavimentar o caminho para uma escolha que será feita posteriormente. Sacaram? Um personagem todo contido não pode, nas cenas finais, dançar na chuva. Ou pode? Talvez o exemplo seja mesmo ruim. O cinema já foi um lugar tranqüilo. Sim, já foi. Ontem tive de fazer algo que me desagrada muitíssimo: chamar a atenção de alguém. Não sei fazer. Se me pedem para fazer qualquer coisa – desarmar uma granada que algum maluco instalou atrás do bebedouro da escola, eu vou lá e faço. Agora, não me peçam para dizer a quem quer que seja que, caso ela continue a chutar a droga do assento ao meu lado alguma coisa muito errada vai acontecer, isso eu não consigo. Não mesmo. Pois foi exatamente o que aconteceu no cinema....