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O Destino apontou e disse: "Como você se chama?"

NÃO SOU FATALISTA. Não acredito que coisas ruins aconteçam apenas com pessoas cujas linhas da mão comportam destinos ruins. Nas linhas, destinos ruins. Não podem correr ou se esconder. É pior. Uma viga cairá nas suas cabeças, um filtro, uma geladeira. Um jarro contendo margaridas espatifar-se-á contra o dorso dessa pessoa, e ela morrerá sem saber o que a atingiu, quem ou quando. Muito menos por quê. Não acredito em nada disso. Mas acredito, sim, que, em alguns casos, em situações absolutamente especiais, em condições inacreditavelmente específicas, irreproduzíveis em laboratório ou mesmo inenarráveis — em momentos assim, certo tipo bastante incomum de ondas cerebrais costuma atrair eventos ou fenômenos estranhos. Disso decorre que coisas estranhas passem a inesperadamente acontecer a certo tipo de gente igualmente estranha. De forma que, antes que perca a linha do raciocínio, é totalmente previsível que pequenos mas poderosos incidentes acabem marcando a trajetória dessa nada especial ...

Última do dia

Um escrito de domingo ligeiro e certeiro. Porque a semana começou, e leve, e rápida, e orgástica, e tensa porque há quantas coisas pela frente e apenas um soldado desarmado a enfrentá-las. De mãos livres. Teclado adiante do peito. Ou coisa parecida. Primeiro, decidi o seguinte: ao lado, os cadernos especiais que já produzi trabalhando em O POVO de fevereiro a setembro de 2008. Quem não leu agora tem a chance de fazê-lo. Depois penso se construo um pequeno atalho até as resenhas escritas para a nossa página de livros. Era isso. Cinco caderninhos sobre os mais variados assuntos.

Here and there

Então... Não tem fim. Quando imagino haver exterminado o último morto-vivo de Raccom, ouço grunhidos e arrastar de pés. Me preparo para o pior sacando uma sub-metralhadora com munição infinita. Em breve, estraçalho esse farrapo que insiste em assombrar a raça humana alimentando-se de nossa carne. Mas há outros deles. Logo duas dezenas desentocam-se de corredores, abrindo e fechando portas, subindo ou descendo escadas. Querem a mim. Sem dúvida alguma, devem ter chegado à conclusão: para o jantar, teremos o soldado Leon. Então só me resta correr? Nada. Caminho até o baú mais próximo, desses que costumam guardar os pertences dos nossos avós nas casas caiadas da infância. Ao contrário dos baús da memória, esse de que falo contém pequenas jóias: rifles, lança-granadas e metralhadoras giratórias. Além de facas e pedaços que, se agrupados devidamente, formam uma bomba relógio ou coisa parecida. Abro-o e tiro de lá a mais potente das armas disponíveis. Fim da piada. Posso dormir sossegado ao m...

I have a dream

As coisas pareciam caminhar levemente sobre os prados cada vez mais belos quando Henrique pisou num monte de bosta do tamanho do maior monte de bosta jamais intuído pela mente do mais inventivo escritor de SCI-FI. O fabuloso destino de HA é entediar-se. E pisar nos montes de esterco encontrados no caminho que antes, cinco ou dez minutos atrás, parecia bastante inofensivo a ponto de encorajá-lo a não olhar para baixo enquanto sorridente seguia em frente, aspirando o ar das campinas, abraçando feliz o destino que casualmente ajudara a construir. O seu destino. Foi o que fez. Até que pisou na coisa do tamanho... Do tamanho da coisa mais feia do mundo. Do tamanho do buraco criado pelo acelerador de apocalipses. Apocalipse é figura de linguagem ou de pensamento? Quem disse que “O grande Lebowski” era um grande filme? Quem disse isso? Não é. Estou cansado dos clássicos. Desses clássicos. Quero afundar na bosta. Mas bosta de verdade, não cocô de plástico comprado no Extra. Li finalmente uma r...

Bom, prefiro a cinza

Melhor quando não se pode esperar qualquer coisa. E ela vem. Não. Ela, qualquer coisa. No domingo costumo acordar com o cheiro do café esfriando na xícara e os gritos do Galvão Bueno narrando a largada da F-1. Definitivamente, gosto dos domingos. Adio até o último minuto as coisas que, no sábado, foram empurradas para o dia seguinte. Ou seja, para o domingo. Portanto, esse dia, a rigor, o primeiro da semana, é dia de adiamentos incessantes. Sucessivos. O que tenho de fazer agora jogo para depois. Filosofia de vida levada a extremos surpreendentes. ASSIM VOU ME ESTREPANDO. Se gosto dos sábados? Sim, também. De modo geral, prefiro os dias da semana útil. Não entendo essas coisas, apenas que prefiro sair de casa para trabalhar na segunda-feira de manhã a ter de ficar em casa — ou sair, dá no mesmo — no sábado. Domingo não tiro os pés de casa. A não ser que tenha de ir pegar o aluguel do outro lado da cidade. Se tiver, jogo a mochila nas costa, subo na 55 na Bezerra de Menezes e sacolejo d...

SALVO-conduto ou contudo

Novamente à ativa depois de uma semana, digamos, às cegas. Leiam o jornal de domingo. Bom, o que temos de novidade? Todo mundo sabe: ainda estamos aqui. Não fomos tragados por qualquer buraco nem detidos por soldados venezuelanos que, ontem mesmo, nos tinham prometido livrar de todo o mal, amém. Estamos bem aqui, vivos. Ou quase. Eu, sentado na cadeira de forro verde, os olhos embaçados, as pernas doloridas, os cabelos obedientes caem aos punhados, os braços sacolejam, a cabeça trepida, os joelhos amanhecem inchados. Sou a decadência em pessoa, a consciência estropiada de Jack. Divertimento do dia: matar zombies. Enquanto isso, um vizinho escuta Ramones há pelo menos duas horas. Mais alguma coisa? Não sei. Preciso comprar uma lâmpada nova para a cozinha. Por que as lâmpadas costumam queimar à noite? Por que não há serviços de delivery para fluorescentes? Por que precisamos clarear tudo? Do que temos medo? GOD zilla? Da cegueira branca? Dizia: preciso trocar a lâmpada. Apenas isso. E pa...

PASTMAN

Domingo chegando ao fim. Novidades? Eu, não. Tudo na mesma. Li o jornal, vi o jornal, ouvi o jornal. Tanto jornal deve fazer mal. Curioso. Ultimamente tenho sentido alguma dificuldade para ler. Leio três, quatro páginas... E paro. Acabo de ver uma foto do Albert Camus no site do Sérgio Rodrigues. Lembrei que, logo quando comecei a escrever, queria ter aquele rosto. Olhar perdido, cigarro pendendo dos lábios. E mais nada. Uma mãe morta? Nem pensar. Gosto da minha. Curioso ter falado dele aqui. Não sabia mesmo de quem se tratava quando catei O estrangeiro na biblioteca do SESC, na rua 24 de Maio, ao lado da Igreja Universal do Reino de Deus. A mesma coisa aconteceu com Bukowski, Herman Hesse e, deixa ver, Fante. Minto. Peguei o meu primeiro Fante emprestado com alguém da faculdade. Não lembro exatamente em que circunstâncias. 1933 foi um ano ruim foi o primeiro Fante. Cartas na rua foi meu primeiro Bukowski. Até hoje, o melhor. Melhor até que Misto quente — porque foi o primeiro. Meu...