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A volta numa vida

Essa semana, essa turbulência, esse clima, esse mês de setembro. Como diria o poeta José, tudo isso põe a gente triste pra burro. E, pra piorar, dou de cara com as fotos de outro casal, este sueco, na faixa dos 20 e poucos anos, felizes e cheios de sonhos. Resolvem atravessar o mundo de bicicleta e são atropelados numa cidade brasileira depois de passarem por quatro países. Ela morre. Muito machucado, mas vivo, ele ainda não sabe que ela morreu. Esse tipo de coisa não devia acontecer. 

A vida numa volta

Numa semana. Tudo que acontece numa semana. As coisas que faltam. As coisas que sobram. As coisas que não sabemos e as que sabemos, as coisas que vamos deixando cair e as que vamos juntando, como pequenos animais que esperam um inverno mais rigoroso do que o habitual. As coisas imaginadas e as perdidas, as invisíveis e as iluminadas, as coisas que aparecem e as que somem, as que saltam e as que deitam. Sete anos após a morte de DFW. Vi um vídeo em que ele aparece dando saltinhos numa rua qualquer. É incrivelmente triste olhar uma foto e não se reconhecer nela, apenas traços vagos de uma vida que poderia ter sido a sua – e não foi. Estou lendo “A garota da banda”, da Kim Gordon. É também uma leitura triste, mas de uma tristeza cheia de potência artística. Trinta anos, e a pessoa que esteve ao lado durante todo esse tempo de repente é outra pessoa, mas sem deixar de ter sido a mesma. Eis a traiçoeira exuberância da vida.   Como DFW no vídeo dando salti...

A música certa

A música certa no momento certo é uma raridade, coisa como o cometa Halley. Vem a cada cinco ou cinquenta anos. É um evento bissexto. Resultado do encontro de variáveis esquisitas, imprevisíveis, a música certa é um acontecimento na vida de qualquer pessoa quando a vida de qualquer pessoa está passando por um momento esquisito que requer explicações que ninguém sabe dar. Exceto, é claro, a música. A certa. Mas, por razões incertas, não se chegou ainda a uma razão para que, num dado momento, sob condições X e Y de temperatura e pressão, uma música qualquer se encaixe de tal forma à sua (nossa) vida, dialogando com as vicissitudes daquele momento específico, assombrosamente prevendo coisas que estão acontecendo agora e misteriosamente predizendo um futuro que ainda não chegou. Nem sempre a música certa é certa porque acerta tudo que diz. Às vezes, é certa porque está no lugar certo e na hora certa. Vejam o caso da música errada, essa música certa que esqueceu de acontecer. ...

Looping

Isso

O que é que a gente faz? A gente olha prum lado, olha pra outro, vê alguém sorrindo e sorri, olha pra frente, pra trás, se pergunta se faz sol ou chuva, lamenta a morte, chora a dor, penteia os cabelos, se perfuma e se programa, escolhe um filme no Netflix e desiste na metade. A gente abre uma aba no computador e fecha uma aba e reinicia a máquina e corta as unhas e ensaboa o cabelo e fuma um cigarro no banheiro porque não quer empestear o restante da casa.   A gente instrui o taxista a entrar por uma rua e sair por outra. E depois bate a porta. E atravessa uma rua. A gente dá bom dia, boa tarde, boa noite e resmunga baixinho um seja o que deus quiser enquanto sobe as escadas.    A gente atende ao telefone, desliga o telefone e esquece o telefone. A gente quer saber se é isso mesmo. É isso mesmo. A gente passa, então, a gostar disso mesmo, a celebrar isso mesmo, a inventar que isso mesmo é realmente isso mesmo. E talvez seja. Mas a ge...