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Tree of codes

It’s amazing!

Caça-palavras

Ao abrir o dicionário ao acaso a primeira palavra que chuvisca na tela é “maléolo”, o que é maléolo?, logo me pergunto fechando o livro já desgastado de tanto uso e atirando-o novamente sobre a mesinha na qual adormecem os jornais da semana, o que pode ser isso, meu Deus?!, finjo excessivo interesse, excessiva concentração, excessiva vibração que se segue à tentativa algo desesperada de intuir, pela simples leitura daquela junção e encadeamento de letras, o que pode querer dizer maléolo, só então formulo teorias, tento significados, busco alternativas, arranjo possibilidades, uma espécie de mal anterior a todos os males que, ao longo da vida, se abatem sobre nós, seres humanos?, uma súbita e irrestrita falta de sentido cuja incidência abraça jovens até 24 anos, mas principalmente crianças entre seis e 12?, uma infecção dos alvéolos pulmonares?, um xingamento, afinal dizer-se “creio que se trata de uma pessoa maléola” soaria como “tenho minhas dúvidas se fulano é realmente um maléolo”,...

Dúvida

Ainda serei livre o suficiente para dar o nome de Superávit Primário a um filho ou a um animalzinho de estimação, desses que povoam apartamentos e janelas de carros, um cachorro, um labrador, quer nome melhor nos dias atuais que Superávit Primário? Dólar em queda? Talvez.

Ondas de calor

O calor imenso que se choca contra o muro e volta, deixando para trás quem sabe menos de 30% de sua fúria ao fim dessa operação refratária, o calor, considerem isso enquanto caminham distraidamente, o calor reflete-se no chão e retorna como vendeta, um bafejar demoníaco que atinge o loteamento de pele mais precioso de qualquer ser humano, o rosto, cauterizando todos os milímetros quadrados da sua cara e fazendo seus olhos arderem como se um bêbado houvesse despejado a urina acumulada de cinco horas bem dentro deles, o calor que faz suar, o calor que faz murchar a folhinha verde da planta no jarro, antes tão esticadinha, o incrível e desordeiro calor das treze horas, o mesmo que nos obriga a adiar qualquer saída no intervalo que vai das 11h30 às 16, o mesmo responsável por hordas de pensamentos moral e eticamente inapropriados quando, num ônibus cheio, a caminho da escola / faculdade / trabalho ou de que porra de lugar se esteja indo, junta-se a 1. uma música indefensavelmente alta e 2....

Trecho

Sim, de algum modo, é possível imaginar que haja uma segunda voz para cada coisa dita, e uma terceira para cada coisa apenas esboçada, mas não dita, o tipo da coisa que fica presa por anos e anos, à espera não que seja finalmente verbalizada, posta goela e língua e dentes afora, mas que os dias e depois os anos e por obra do tempo arredio as décadas enterrem-na bem fundo, essa coisa de que não gostaríamos de abrir mão, reconheçamo-lo, todavia, seja porque há todo um clichê de frases cuja validade é unicamente enfatizar a grandeza das perdas, seja porque, de uma maneira ou de outra, elas nos sobrevêm, não custa nada entender que nem tudo é feito para virar palavra. Dito isso, é possível, sim.