A segunda frase que tinha anotado no caderno
era essa. Uma sentença que leio frequentemente
quando entro no Facebook e ele se encarrega de sugerir rostos e nomes, numa
roleta de afinidades eletivas baseadas em algoritmos cuja lógica interna é tão
precisa quanto adivinhar o futuro na borra do café.
Pensei nas cartas, no dia de ontem, nas
fantasias que escolhemos matar, num poema de Ana Martins Marques postado na
mesma rede social que termina com uma frase marcante que evito até reproduzir
porque não sei que estragos é capaz de causar em alguém tão cheio de suscetibilidades, uma deficiência que se acentua às vésperas do Natal.
Pessoas que talvez você conheça são amigos
dos amigos, gente que, em tese, tem interesses comuns aos seus. Ou ainda
pessoas que vão passando pela linha do tempo da vida de cada um.
Outra expressão engraçada: linha do tempo. Esta eu não anotei, mas falo dela aqui brevemente.
Curioso pensar no tempo como um novelo que se
desdobra, dando origem a essa linha cartesiana. Uma trajetória reta de fatos que se
sucedem no curso dos anos. Uma infinidade de pontos discerníveis, jamais
embaralhados.
A linha conduz fatalmente a um ponto B. Parte de A e chega a B, quando o mais provável é que as coisas se deem de outra forma. Mas, ao aplicativo, interessa sistematizar e organizar as pessoas como contatos.
Outro dia um amigo se referiu a um paquera, agora crush, como "contatinho". Considerei a palavra. Meu pai a usava quando queria falar dos seus clientes na loja. Já ouvi também quando entramos todos num negócio de vender produtos de beleza - todos tínhamos nossos contatinhos para os quais ligávamos quando desejávemos vender gato por lebre na tentativa de ascender no esquema de pirâmide.
Linha do tempo, contatinhos e barra de rolagem. Os reveses e amigos catalogados. A barra sobe e desce, e eles continuam lá, janelinhas piscando, rostos felizes dançando na segurança de um horizonte mediado. Talvez resida aí o sucesso.
O Facebook simplifica a vida, tornando-a menos perigosa, mais certeira. Não perdemos tempo com pessoas cujos interesses não se aproximam dos nossos. Se não estão na nossa linha do tempo, simplesmente não existem. Por outro lado, fechamos o foco: nossa linha tempo, dizem os amigos. Orgulho da minha timeline, falam outros.
Não mais a cidade, o bairro, a rua, mas a timeline. Uma ideia de comunidade virtual que esvazia o espaço público e transfere ao virtual o grosso das interações, nas quais depositamos extrema confiança e às quais nos entregamos com o ímpeto de cristãos novos.
Morre um pouco a ideia de acaso para os encontros, mas não totalmente. A rua continua, como a cidade, a surpreender, e é nela que os amores de fato se reconhecem e enlaçam. Fora dali, fora da rua, é tudo uma potencialidade atravessada por projeções egóicas.
Isso me fez pensar noutra coisa.
A linha conduz fatalmente a um ponto B. Parte de A e chega a B, quando o mais provável é que as coisas se deem de outra forma. Mas, ao aplicativo, interessa sistematizar e organizar as pessoas como contatos.
Outro dia um amigo se referiu a um paquera, agora crush, como "contatinho". Considerei a palavra. Meu pai a usava quando queria falar dos seus clientes na loja. Já ouvi também quando entramos todos num negócio de vender produtos de beleza - todos tínhamos nossos contatinhos para os quais ligávamos quando desejávemos vender gato por lebre na tentativa de ascender no esquema de pirâmide.
Linha do tempo, contatinhos e barra de rolagem. Os reveses e amigos catalogados. A barra sobe e desce, e eles continuam lá, janelinhas piscando, rostos felizes dançando na segurança de um horizonte mediado. Talvez resida aí o sucesso.
O Facebook simplifica a vida, tornando-a menos perigosa, mais certeira. Não perdemos tempo com pessoas cujos interesses não se aproximam dos nossos. Se não estão na nossa linha do tempo, simplesmente não existem. Por outro lado, fechamos o foco: nossa linha tempo, dizem os amigos. Orgulho da minha timeline, falam outros.
Não mais a cidade, o bairro, a rua, mas a timeline. Uma ideia de comunidade virtual que esvazia o espaço público e transfere ao virtual o grosso das interações, nas quais depositamos extrema confiança e às quais nos entregamos com o ímpeto de cristãos novos.
Morre um pouco a ideia de acaso para os encontros, mas não totalmente. A rua continua, como a cidade, a surpreender, e é nela que os amores de fato se reconhecem e enlaçam. Fora dali, fora da rua, é tudo uma potencialidade atravessada por projeções egóicas.
Isso me fez pensar noutra coisa.
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