Ainda sobre a saída de Ivo Gomes do governo Camilo. Escrevi outro dia que a possibilidade de que os Ferreira Gomes estejam planejando se descolar do petismo no Ceará é mais plausível do que considerar a atitude intempestiva do caçula do grupo como mero capricho.
A baixa pode não ser nada, mas pode ser alguma coisa. Tratemos
de possibilidades, então.
O PT desidrata no país inteiro. PMDB e PDT, para citar apenas
dois partidos da base do governo Dilma, estão de malas prontas para deixar o Planalto.
PDT, legenda para onde os irmãos pretendem se mudar, tem votado contra o governo
desde o início do ano. Difícil crer que o grupo escolheria uma sigla com passaporte
comprado para a oposição sem levar em conta a repercussão que isso teria na
política cearense. A não ser que o próprio grupo tenha planos de deixar a base
de Dilma...
Outra questão: restando ainda três anos e meio para uma nova
eleição, seria realmente inteligente romper com o governo do Estado?
Refaço a pergunta: caso a intenção seja essa, seria prudente
esperar três anos e meio para romper com o governo?
Principalmente se o grupo tiver em vista não apenas as
eleições de 2018, mas as do ano que vem, quando o prefeito Roberto Cláudio
(Pros) tentará a recondução. Até 2016, a Lava Jato terá feito ainda mais
estragos do que vem fazendo, e ninguém duvida de que Dilma e o PT, hoje no “volume
morto”, possam estar declaradamente inanimados.
Pensando apenas em 2016: o apoio de um governador do PT será um
trunfo ou um fardo?
Mais: caso supere o desgaste que a saída de Ivo certamente
trará e se mantenha aliada a Camilo, que vantagens políticas a família FG
espera obter de um governo que, em seis meses, tratou de expurgar os nomes
ligados ao seu padrinho político?
Finalmente: qual o peso que uma eventual candidatura própria
do PT ano que vem teria sobre o casamento entre os FG e Camilo? Ou: supondo que
RC se bandeie para o PDT e o PDT, para a oposição a Dilma, com que argumentos
Camilo defenderá internamente a reeleição do atual prefeito?
Prestes a deixar o Pros, é claro que essas cartas estão na
mesa dos irmãos. Qualquer que seja a decisão, ela levará em conta os cenários nacional
e local.
Olhando para fora, a conclusão é inequívoca: nunca foi tão difícil estar na base do governo. Olhando para dentro, a situação também não é boa: nunca foi tão difícil influenciar as ações de Camilo. Juntem-se as duas dificuldades, e tem-se uma razão concreta para uma ruptura.
Olhando para fora, a conclusão é inequívoca: nunca foi tão difícil estar na base do governo. Olhando para dentro, a situação também não é boa: nunca foi tão difícil influenciar as ações de Camilo. Juntem-se as duas dificuldades, e tem-se uma razão concreta para uma ruptura.
A preço de hoje, com base na indefinição que cerca o futuro da
presidente, nos desdobramentos da Lava Jato, nos processos que correm no TCU e
no TSE, na erosão da popularidade do governo, nos péssimos indicadores econômicos e na queda de braço em torno do apoio à reeleição de RC, vejo mais cálculo político
em qualquer gesto de um Ferreira Gomes do que apenas a manifestação infantil de
um ego ferido, como sugere a tese de que a falta de verbas – e de prestígio, acrescentaria
Luizianne Lins – teria levado o ex-secretário a desembarcar da gestão petista.