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Modos de ser

As perguntas que sempre fazem, as respostas que nunca oferece.

Mais um verbete para o catálogo que agrupa os “Fantásticos Modos de Ser”: reticente, que é o mesmo de lacunar.

Lacunar não tem relação com lacustre, que vem de lago, ao menos foi assim que lhe ensinaram na escola.

Lacunar também difere de lunar.

Tampouco o vocábulo pode ser tomado como a junção arbitrária de lacustre e lunar - algo como a superfície fria e límpida de um lago na lua.

Não é forçando a justaposição, e mesmo a aglutinação, que nascerá uma plataforma de significado nova. É preciso alguma espera.

Ao contrário do disparate (jogo adolescente de perguntas e respostas geralmente inscritas em caderno pautado), cujo propósito é interrogar e descobrir, o modo de ser reticente empreende uma busca ordinária e infrutífera.

Diz: propósito, mas segue, a rigor, despropositada.

Se escreve “trabalho”, conserta. Se escorrega peito adentro, chafurda sentimentos.

Por despropositada não entendam sem propósito, mas variante, indefinida, fluente em todas as línguas e em nenhuma.

À lógica, o absurdo.

Às respostas insípidas, as soluções imaginárias.

Tipo da questão absurda: quererá dizer algo com a nuca? Todos sabem: a nuca é silêncio. Zona erógena, pouco se explica.

A nuca sequer reflete.

Cabelo, pernas, o braço esticado que alcança o copo, a suave palma espalmada, tudo isso falará mais que a nuca.

Mesmo intrigantes, questões absurdas não serão formuladas a qualquer hora do dia ou da noite.

Ficam restritas a tempo apropriado, que poderá ser definido entre as partes em outra oportunidade.

Porque são absurdas, perguntas dessa natureza não admitiriam resposta que não fosse a imaginária.

Na sequência, apresenta-lhes a ideia de um redutor de aflição que começou a construir no quintal. É, como veremos, uma obra rústica. E absurda.

Pensa em chamar o constructo doméstico de “pulverizador de distração”.

Tome do pano, tome do pó. Em seguida, inicie o preparo do café, ferva a água, lave a colher. Enquanto a fervura apronta, pano já limpo e garrafa à mão, trate de se distrair.

A água logo passará a vapor.

O pano continuará pano, a colher, colher.

A garrafa não dará um passo fora do lugar. Seguirá respeitando a imobilidade que emana de qualquer garrafa.

A conclusão é óbvia: ao cabo do processo, a distração terá desempenhado um papel surpreendente, que não é outro senão o de abrir caminho para a falha.

A falha, o erro, o desviar-se da rota moral do hábito, o abandonarem-se ritos domésticos e escolhas feitas mais por conveniência que por convite natural do vento.

Lembrem-se: é agosto, quase setembro.

Tempo de outro modo de ser.

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