É uma história simples a que desejava contar. Imaginem um garoto como o que acabo de desenhar ficcionalmente. Alguns dias antes de completar 14 anos, contrariando a tradição familiar, o menino decide não saltar mais.
Na verdade, é menos uma escolha que uma desistência.
Rapazes da mesma idade e até mais novos seguem pulando. É o que sempre fizeram. Tomam distância, respiram fundo, sincronizam mentalmente a corrida, a ordem de cada perna, a entrada na água, o tempo de imersão, a escalada de volta à superfície da ponte velha.
A corrida é disparada. A perna direita alcança a primeira coluna. Imaginem que, ao menor erro, despencam de cabeça e que, logo abaixo, há corais pontiagudos e estruturas de ferro da velha construção.
Sem pausa, emenda-se o segundo pulo, que toca de leve outra coluna, e, finalmente, o terceiro. É o trampolim para o mergulho nas águas encrespadas do mar da cidade.
Os turistas aplaudem. Novos saltadores estão a postos.
Entre corrida e mergulho, toda a manobra não leva mais que cinco segundos, e não é tão diferente do salto à distância: dois pulinhos antes do pulo maior, que deve cobrir a maior extensão possível. Um, dois, três e pulo, um, dois, três e pulo... Vale para a areia, vale para o mar.
A história que deseja contar não explica por que o garoto falha. Sequer cogita hipóteses mínimas, um mecanismo psicológico não é acionado, uma "luz" não se acende, uma "peça" já desgastada não responde ao comando do corpo?
Não haverá respostas. A história contenta-se em narrar. O menino não saltará e pronto.
É impossível, conclui, determinar o motivo.
Desejo para 2025 desengajar e desertar, ser desistência, inativo e off, estar mais fora que dentro, mais out que in, mais exo que endo. Desenturmar-se da turma e desgostar-se do gosto, refluir no contrafluxo da rede e encapsular para não ceder ao colapso, ao menos não agora, não amanhã, não tão rápido. Penso com carinho na ideia de ter mais tempo para pensar na atrofia fabular e no déficit de imaginação. No vazio de futuro que a palavra “futuro” transmite sempre que justaposta a outra, a pretexto de ensejar alguma esperança no horizonte imediato. Tempo inclusive para não ter tempo, para não possuir nem reter, não domesticar nem apropriar, para devolver e para cansar, sobretudo para cansar. Tempo para o esgotamento que é esgotar-se sem que todas as alternativas estejam postas nem os caminhos apresentados por inteiro. Tempo para recusar toda vez que ouvir “empreender” como sinônimo de estilo de vida, e estilo de vida como sinônimo de qualquer coisa que se pareça com o modo particular c...
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