Pular para o conteúdo principal

PRA CURTIR: 17 TIPOS DE USUÁRIOS DO TWITTER



Francis Santiago


1. Plebiscitário: corto os cabelos? Compro pizza ou esfirra? Faço 69 ou cavalgo?


2. Bobo-alegre: está pessoalmente convencido de que o hoje é sempre sábado, e, portanto, cada hora constitui eterna oportunidade para que ele despeje seu léxico cultivado na literatura "Poliana". Habitué do “carpe diem”, demarca suas postagens assim: “Vamos animar! A vida é festa!”.


3. Lacônico-cumprimentativo: “Boa noite. Passei aqui pra deixar um Oi. Oi.”


4. Carente-afetuoso: "Gente, MORRENDO de saudade de vocês. Bora se encontrar hoje, onde, que horas?" Para ele, viver é um ininterrupto acúmulo de ternura e bons sentimentos. E de saudades, por supuesto.


5. Festeiro-autoconvidativo: qual é a boa de hoje, galera?


6. Ególatra: “Terminei mais um livro, concluí um artigo, tomei banho, passei sabonete, tirei a sujeirinha do umbigo. Agora vou dormir para amanhã fazer tudo novamente, se Deus quiser.” Sua vida é uma obra aberta e cristalina, como visto.


7. Reprodutor-delegativo: dá RT o dia inteiro, não fala nada, apenas assente.


8. Intumescido-sensível: excitado, alimenta um tesão perenizado, dispara torpedos, cutuca e morre de ansiedade aguardando cutucadas, narra a via crúcis do corpo com vivacidade. Eventualmente consuma. Eterno insatisfeito das carnes e contumaz arquiteto de sua figura pública no mundo virtual.


9. Promocional (não confundir com o tipo auto-assessor-de-si, mais abaixo): só se manifesta quando a TAM ou alguma empresa de cosméticos realiza QUEIMA fenomenal nos estoques. Ocasionalmente abre exceção em datas comemorativas.


10. Grave-reflexivo: jamais é inconsequente, irrelevante, gratuito. Para ele, o Twitter é uma arena pública adequada ao entrechoque de opiniões e à exposição da fina arte argumentativa.


11. Cômico mal-sucedido: mesmo a piada mais engraçada, quando postada por ele, torna-se torturante, forçada, deprimente até. Nauseabunda, a categoria ganha mais adeptos dia a dia.


12. Mezzo-cômico: só consegue ser divertido quando pega carona em alguma onda. Geralmente, entra no meio da conversa, faz apontamentos moderamente curiosos e apenas remotamente engraçados, e pede pra sair.


13. Cômico bem-sucedido: inventa modas, diverte, transgride as regras de etiqueta das redes sociais, tem insights geniais e, via de regra, está nadando contra a corrente. O humor refinado é sua arma. Segundo dados do IBGE, o tipo corresponde a 1,9% da tuitosfera.


14. Pari passu: tipo expansivo, com vasta rede de amigos, recorre sempre a ferramentas de geolocalização, submetendo seus seguidores a sistemático acompanhamento de suas idas e vindas, 24 horas por dia, sem pausa para descanso. É instagrameiro e foursquareplayer por excelência, useiro e vezeiro da construção I’m at...


15. Auto-assessor-de-si: dá RT em pessoas que sabiamente aplicaram RT às suas postagens - em casos mais graves, replica também aos seus próprios RTs, dando início a uma cadeia fenomenológica cujo final e começo não podem ser facilmente distinguidos, exceto por ferramenta de rara usabilidade na Internet e de manuseio trabalhoso: o bom senso. No mais das vezes, esse autopromoter é bem representado por uma figura pública, tal como um jornalista ou DJ.


16. Exortativo-animador-amador: faz largo uso da caixa alta ao se manifestar publicamente. “E aí, ESTÁ TODO MUNDO PREPARADO PRA FESTA MAIS TARDE?!!!" Eventualmente, alguém responde: sim, estamos. E dá-se por encerrada a conversa.


17. Joyceano-narrativo: caleidoscópico e donatário de razoável habilidade linguística, como a própria designação sugere, o tipo narra tudo que lhe caia às vistas. Senhor de múltiplas plataformas (iPhone, iPad, PC, note etc.), abocanha com desenvoltura centenas de capítulos de novelas, passando por edições do BBB, shows transmitidos na internet, partidas de tênis, olimpíadas, programas de auditório, até chegar aos eventos midiaticamente imponentes, como casamentos de príncipe, morte de personalidades e fofocas relacionadas à rede de amigos & afeiçoados. Para ele (o tipo), o que importa é que o fato seja passível de narração (personagens, tempo, enredo, núcleo dramático etc.). Acompanhá-lo é garantia de diversão e, em porção salomonicamente igual, sofrimento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Museu da selfie

Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por

Cansaço novo

Há entre nós um cansaço novo, presente na paisagem mental e cultural remodelada e na aparente renovação de estruturas de mando. Tal como o fenômeno da violência, sempre refém desse atavismo e que toma de empréstimo a alcunha de antigamente, esse cansaço se dá pela falsa noção da coisa estudadamente ilustrada, remoçada, mas cuja natureza é a mesma de sempre. Não sei se sou claro ou se dou voltas em torno do assunto, adotando como de praxe esse vezo que obscurece mais que elucida. Mas é que tenho certo desapreço a essas coisas ditas de maneira muito grosseira, objetivas, que acabam por ferir as suscetibilidades. E elas são tantas e tão expostas, redes delicadas de gostos e desgostos que se enraízam feito juazeiro, enlaçando protegidos e protetores num quintal tão miúdo quanto o nosso, esse Siará Grande onde Iracema se banhava em Ipu de manhã e se refestelava na limpidez da lagoa de Messejana à tarde. Num salto o território da província percorrido, a pequenez de suas dimensões varridas

Conversar com fantasmas

  O álbum da família é não apenas fracassado, mas insincero e repleto de segredos. Sua falha é escondê-los mal, à vista de quem quer que se dê ao trabalho de passar os olhos por suas páginas. Nelas não há transparência nem ajustamento, mas opacidade e dissimetria, desajuste e desconcerto. Como passaporte, é um documento que não leva a qualquer lugar, servindo unicamente como esse bilhete por meio do qual tento convocar fantasmas. É, digamos, um álbum de orações para mortos – no qual os mortos e peças faltantes nos olham mais do que nós os olhamos. A quem tento chamar a falar por meio de brechas entre imagens de uma vida passada? Trata-se de um conjunto de pouco mais de 30 fotografias, algumas francamente deterioradas, descubro ao folheá-lo depois de muito tempo. Não há ordem aparente além da cronológica, impondo-se a linearidade mais vulgar, com algumas exceções – fotos que deveriam estar em uma página aparecem duas páginas depois e vice-versa, como se já não nos déssemos ao trabalho d