Eu penso três segundos apenas e, diferentemente de Baudrillard e todo esse papo de desmitologização do passado, logo chego à conclusão de que sou retrô porque me identifico com a maneira de se vestir daquela época, os anos dourados do rádio e, depois, da televisão, do rádio e da TV, eu acho, e depois porque o penteado daquelas donas de casa nas propagandas de geladeira e máquina de passar eram tão bonitos!, touceiras de cabelos presos num lindo coque, as roupinhas com caimento perfeito, vestidinhos bem comportados, discretos, brincos, pulseiras, batom discreto, tudo muito discretinho, rímel? Não sei se tinha rímel, mas uso como se houvesse e integrasse o rol de coisinhas que as mulheres daquela época, não as pin ups, as pimentinhas, estou falando das mulheres comuns, as donas de casa, como se elas usassem no dia a dia, daí vêm as bolinhas, as manguinhas, as sapatilhas, as bolsas pequenas ajustadas ao corpo, fico tão bonita metida nessa auréola old fashioned que ninguém imagina, mas nunca dispenso a cara de sonsa, acho que toda mulher tem que ter cara de sonsa, aquela expressão do tipo arzinho Scarlet Johansson com Zooey Deschanel, sonsa bem disposta ao flerte, ao combo destrutivo.
Também gosto de videogame retrô, joguinhos antigos but novos que emulam maneiras velhas, se me entendem, plataformas Nintendo, geração 8 bits, perspectiva, personagem unidimensional, saltos sem gravidade, a gente pula, desiste no meio do caminho e no ar faz uma curva de volta, e volta, sem problema, porque tudo isso o jogo permite. Tem também as navezinhas que disparam um tiro a cada dois segundos, aí a nave fica se desviando de mil e um obstáculos, daí você tem um tempão pra planejar cada manobra e o jogo acaba se tornando meio fácil e ao mesmo tempo viciante.
Pra encerrar, tenho essa ideia retrô de que antigamente era melhor que hoje, talvez isso esteja na base de todo esse pensamento atual, digo contemporâneo, que julga o passado com olhos benevolentes e faz vista grossa pras coisas de agora, o olvido encarado como um conjunto homogêneo de sonhos bons que recendem a eucalipto e alfazema, sonhos antigos, doirados, tempo cristalizado, nele as pessoas tinham passe livre pra serem elas mesmas, tudo excepcionalmente original, dinâmico, alegre, contagiante, fresco, sabor de que acontecia ali, naquele instante, tinha a magia do cigarro e o sexo sem camisinha, uma porção de coisas que se fosse falar passaria a noite inteira aqui e haja cerveja e haja cigarro e haja paciência pra me ouvir quando estou desse jeito, mas ainda assim passeamos nesse jardim primaveril com cara de bobos.
Eu sou retrô, não nego, mas detesto cara de bobo.
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