
Não sei exatamente o quê, mas algo no Facebook é imoderamente irritante.
O festival de fotinhas que pipoca dos gadgets flagrando momentos candentes do dia a dia? Os comentários que se seguem a qualquer gesto gratuito ou frase pretensamente motivadora? O excitante brilho plástico da vida alheia? O afinco gasto na promoção da fita cinematográfica da qual cada um é protagonista em desesperado monólogo? A escassez de opções de interação? Afinal, estamos falando de um modelo de gestão de amizades, negócios, contatos etc. cuja estrutura nos permite duas coisas: curtir e comentar.
Ia esquecendo, há cutucar também.
Curtir, cutucar e comentar, eis a questão. Consomem-se horas por dia indo-se de um lado a outro, ora comentando, ora cutucando, ora comentando e cutucando ao mesmo tempo. Qualquer coisa é passível de ser curtida.
Fotos dos netos, um pensamento solto, uma música, o que faremos no dia seguinte, um aviso importante (hoje tem True Blood, gente!), um vídeo, um aniversário, uma propaganda de si mesmo, foto do gato, foto do cachorro, foto de pôr do sol, clipe da banda preferida, a admissão pública de que acabamos de mergulhar em um “relacionamento sério”. Um trecho de Saint-Exupéry.
Só com o coração conseguimos ver corretamente. O essencial é invisível aos olhos.
Propagandear-se. É para isso que serve o Facebook? Duvido. Não funcionaria. Todavia, há ali um exuberante desfile que faz ruborizar qualquer leilão de gado nelore. Reparem: escolhem-se os melhores sentimentos, os melhores ângulos, as melhores frases, os melhores perfis.
O Facebook é uma máquina eficiente de converter pessoas em seus próprios paparazzi. Atuamos, criticamos, publicamos e repercutimos. Criamos os factóides, equilibramos a cobertura, inflacionamos segredos, soltamos balões de ensaio, testamos a audiência.
Audiência, essa palavra mágica. É quase impossível viver sem 30 comentários / cutucadas / curtidas por dia.
Embora ache o número levemente superdimensionado, a ferramenta garante que tenho 316 amigos. Lá é possível identificar status (em um relacionamento sério), formação acadêmica, cidade natal, paixões, amizades. Informações essenciais sobre a vida de uma pessoa. Há possibilidade de jogar em aplicativos e de marcar pessoas em álbuns.
Há outras coisas também.
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