De volta, mas ainda cansado. Os dedos haviam pedido qualquer coisa parecida com descanso. Foi inevitável.
Vi Anticristo. Comento.
Primeiro, gostei bastante do filme. Mesmo. Achei-o aterrorizante num sentido lato. Para mim, é, sim, um filme de terror. Não tem monstros, vampiros, lobisomens nem bruxas. Mas é terror aquilo que vemos ao longo de quase duas horas.
Há muito que ser dito. Por exemplo: de que trata realmente o longa? Não sei dizer ao certo. Entendo que aborda a relação entre o homem e o divino. Melhor: entre o divino e o baixo, o caído, expresso conceitualmente como aquilo que está na ordem da Igreja de Satanás.
A natureza – árvores, animais e demais seres vivos que a habitam – é essa igreja. A mulher é seu agente? Ao que tudo indica, sim. A mulher é porta de entrada para essa região - a floresta, local para onde o casal se recolhe após a perda de seu filho. Nesse sentido, o feminino pertence ao mesmo campo semântico de: caos, natureza, selvagem, satanás.
Ao de anticristo, pois. Porque vai de encontro ao conhecimento hierarquizado, racional, dogmático. Porque produz um contraconhecimento. Uma contradoutrina, propondo outro tipo de relação com o ambiente. Uma relação também mediada pelo impulso da morte. Pela destruição propositada.
Terapeuta, o personagem masculino acredita poder curar por meio da razão a doença da esposa, que sofre trauma e carrega praticamente sozinha o fardo da culpa pela morte do filho.
Assim, há um casal culpado. O sexo é um elemento. A morte é outro. Entre os dois, há as figuras do feminino e do masculino, que parecem representar forças distintas. O homem, um esforço de compreensão frio. A mulher, a aderência ao que é natural. O pertencimento, o arraigado, o vínculo desesperado. A loucura, o destempero, o impulso de morte e a capacidade de se comunicar com a energia oculta da terra, tragando-a e sendo tragada por ela.
A natureza é o ambiente satânico. Porque é lá onde se encontram os ingredientes com que se forja um conhecimento laico, não-cristão.
(SABIA QUE ME PERDERIA NESSA ANÁLISE TANTO QUANTO QUE NÃO PODERIA DEIXAR DE FALAR DESSE FILME. VAMOS EM FRENTE).
Não por acaso, a personagem feminina dedica-se a estudar o “feminicídio” ao longo da história humana. Não por acaso, identifica-se com as bruxas, as feiticeiras que foram consideradas veículos do demônio e atiradas ao fogo. Não por acaso, é como que dominada por essa área de estudo. E finalmente: não por acaso resolve voltar à cabana perdida na floresta.
Para mim, toda essa simbologia é bastante forte para não querer dizer nada além de comunicar informações de pano de fundo. Mas, Anticristo se encerra nesse esquema?
Obviamente, não. No final, tem-se um dado que embaça essa construção. O propósito. O desígnio. A vontade. O arbítrio. Tudo como a dizer: anticristo somos aqueles que, entre a vida e a morte, escolhemos a morte.
Há mais para ser dito. Brevemente. Não agora. Como: Lars von Trier fez um bom filme? Acho que sim. Embora tenda a reconhecer que algumas cenas poderiam não ter sido mostradas – a mutilação, por exemplo, porque narrativamente a sugestão teria o mesmo valor. No longa, porém, o diretor escolhe explicitar tudo. Nada é escondido.
Vi Anticristo. Comento.
Primeiro, gostei bastante do filme. Mesmo. Achei-o aterrorizante num sentido lato. Para mim, é, sim, um filme de terror. Não tem monstros, vampiros, lobisomens nem bruxas. Mas é terror aquilo que vemos ao longo de quase duas horas.
Há muito que ser dito. Por exemplo: de que trata realmente o longa? Não sei dizer ao certo. Entendo que aborda a relação entre o homem e o divino. Melhor: entre o divino e o baixo, o caído, expresso conceitualmente como aquilo que está na ordem da Igreja de Satanás.
A natureza – árvores, animais e demais seres vivos que a habitam – é essa igreja. A mulher é seu agente? Ao que tudo indica, sim. A mulher é porta de entrada para essa região - a floresta, local para onde o casal se recolhe após a perda de seu filho. Nesse sentido, o feminino pertence ao mesmo campo semântico de: caos, natureza, selvagem, satanás.
Ao de anticristo, pois. Porque vai de encontro ao conhecimento hierarquizado, racional, dogmático. Porque produz um contraconhecimento. Uma contradoutrina, propondo outro tipo de relação com o ambiente. Uma relação também mediada pelo impulso da morte. Pela destruição propositada.
Terapeuta, o personagem masculino acredita poder curar por meio da razão a doença da esposa, que sofre trauma e carrega praticamente sozinha o fardo da culpa pela morte do filho.
Assim, há um casal culpado. O sexo é um elemento. A morte é outro. Entre os dois, há as figuras do feminino e do masculino, que parecem representar forças distintas. O homem, um esforço de compreensão frio. A mulher, a aderência ao que é natural. O pertencimento, o arraigado, o vínculo desesperado. A loucura, o destempero, o impulso de morte e a capacidade de se comunicar com a energia oculta da terra, tragando-a e sendo tragada por ela.
A natureza é o ambiente satânico. Porque é lá onde se encontram os ingredientes com que se forja um conhecimento laico, não-cristão.
(SABIA QUE ME PERDERIA NESSA ANÁLISE TANTO QUANTO QUE NÃO PODERIA DEIXAR DE FALAR DESSE FILME. VAMOS EM FRENTE).
Não por acaso, a personagem feminina dedica-se a estudar o “feminicídio” ao longo da história humana. Não por acaso, identifica-se com as bruxas, as feiticeiras que foram consideradas veículos do demônio e atiradas ao fogo. Não por acaso, é como que dominada por essa área de estudo. E finalmente: não por acaso resolve voltar à cabana perdida na floresta.
Para mim, toda essa simbologia é bastante forte para não querer dizer nada além de comunicar informações de pano de fundo. Mas, Anticristo se encerra nesse esquema?
Obviamente, não. No final, tem-se um dado que embaça essa construção. O propósito. O desígnio. A vontade. O arbítrio. Tudo como a dizer: anticristo somos aqueles que, entre a vida e a morte, escolhemos a morte.
Há mais para ser dito. Brevemente. Não agora. Como: Lars von Trier fez um bom filme? Acho que sim. Embora tenda a reconhecer que algumas cenas poderiam não ter sido mostradas – a mutilação, por exemplo, porque narrativamente a sugestão teria o mesmo valor. No longa, porém, o diretor escolhe explicitar tudo. Nada é escondido.
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