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Multiusabilidade e personas

Há um nexo possível entre a multiusabilidade, que é a funcionalidade levada ao extremo, e a grande variedade de personas adotadas nas redes sociais. Com a multiplicação dos mecanismos de interação, diversificam-se também as máscaras sociais, ou seja, para cada ato cotidiano de sociabilidade, dispomos de uma persona diferente, que implica também uma função diferente. Versões de si mesmo espalhadas por cada canto da vida, transcorra ela nos ambientes virtuais ou não, podem agora ser encontradas em doses fartas. Quando menos suspeitamos, está ali, diante da gente, conversando e interagindo e afirmando e fazendo coisas que depois de algum tempo terão a incrível capacidade de nos surpreender.   Tão antigo quanto a própria humanidade, o desafio de ser realmente quem você talvez constitua algo que exorbite nossas faculdades mais básicas, como a inteligência e a capacidade de abstração. É uma tarefa para a qual simplesmente talvez não estejamos habilitados.   ...

Mil e uma utilidades

Crônica publicada no jornal O Povo em 25/4/2013 Embora não conheça estudos que confirmem, a multiusabilidade vem transformando os espaços e objetos e, com eles, as pessoas. Hoje bem mais que antes, lojas não são apenas lojas, mas lugares de experimentação – sai-se dos templos com a vaga certeza de que se adquiriu alguma verdade inacessível por meios ordinários. Nelas, o ato de comprar, que permanece sendo a viga-mestra de qualquer negócio, reveste-se de uma maquilagem que se destina não a falsear a transação pecuniária, mas a transcendê-la. Antes de cumprir o seu destino (abrir uma lata de doces, serrar a madeira, desentortar um aro de bicicleta), os objetos exibem essa mesma áurea fabular de que são dotados apenas os seres fantásticos e as histórias contadas pela mãe na hora de dormir. Embalados, carregam promessas de multiplicidade, volúpia e consolo. Virginais em sua potência, soam plenos e resolutos, mas são apenas o que são: um abridor de latas, um serrote, uma chave-e...

Viajar é preciso

Bolas arrastadas pelo vento. Já me perguntaram muitas vezes se vou viajar. É sempre assim. Afinal, estou de férias, e o que faz uma pessoa de férias? Viaja? Fica em casa? Joga videogame? Alimenta as plantas? Dorme? Toma cerveja? Tranca-se no banheiro com revistas pornográficas? Não, uma pessoa de férias trata imediatamente de sair de férias, e sair de férias quer dizer viajar, estar em trânsito, fotografar planícies diferentes, ver coisas diferentes, pessoas diferentes, provar sabores diferentes e, mais importante, demonstrar pictoricamente que passou e comeu e viu e provou cada uma das texturas mencionadas. Viajar é provar que viajou. Um exemplo: se viajo, mas não tenho meios de garantir minha passagem, ninguém acreditará em mim. Viajar é documentar. 

Creme de avelã

Terminei Nocilla dream . Jogando God of War . Estou no cap. 23. Falta pouco, quase nada. Incrível como é fácil. A diferença entre jogos e a vida é que nos jogos nunca há obstáculos intransponíveis. Do tipo que bate e volta. Há sempre uma maneira de matar os caras. Daí a facilidade. A gente pode morrer muitas vezes, mas sempre encontra um jeitinho de matar. Nocilla dream é um livrinho do caramba. Amanhã tem uma materinha no jornal.