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PARATY FANTASY

Voltamos de Paraty, do frio e do mojito . Uma festa de livros, autores, senhoras vestidas como se fossem ao baile imperial, homens empertigados sobraçando volumes recém adquiridos, professores de cenho franzido (a festa está mais democrática, pelo visto), jovens barbados caminhando sob a grua de um cineasta experimental (câmeras escondidas acompanham seus passos desde o instante primeiro em que puseram os mocassins modernos em contato com as pedras da cidade histórica), nebulosas de crianças estrepitosas saídas de alguma escola próxima e matilhas de mulheres de meia idade calçando tamancos com estampa de oncinha, bicos do peito ameaçadores apontando para os transeuntes. A Festa Literária Internacional de Paraty é um circo, um show, uma feira, um desfile de jovens fumantes, velhotes de cachecol e meninas de 16 anos que despertaram apenas recentemente para o prazer da leitura e que agora se enamoram das fanfarronices de um James Ellroy (à menção de “punheta”, elas soltavam risinhos fr...

AMor

Sempre praticamos amor, afinal mamar e ninar e acorrentar galinhas para que não se extraviem e curar as feridas de um gato perebento são gestos de amor por excelência. O amor está no ar, o amor é o café da contemporaneidade, é o caramelo da moçada nas redes sociais, o alimento dos movimentos artísticos e a trama inescapável das narrativas modernas. O amor é hype .

Falando nisso

Tenho experimentado escrever para dominar momentaneamente o sentimento do medo. Funciona, e não preciso recorrer a outros expedientes, sejam remédios, filmes, apelos, orações, bebidas, sono, psicanálise etc. É simples: convívio. Escrever é coabitar, estar perto, sentir-se dentro, pertencer. Em alguma medida, também quer dizer desafiar, encarar, cuspir na cara. Finalmente, escrever é resignar-se. Todos os sentidos estão reunidos aqui, agora. Menos por vontade própria que por alguma inevitabilidade presente em qualquer coisa viva. Não escolhi nada, o que veio, veio e pronto. O medo está aqui, não posso fazer nada, exceto identificar o medo, cercar o medo, olhar sério para o medo, simulando expressão de enfado e, em caso de ineficácia, inequívoco desgosto, até finalmente atingir aquele estágio de desespero em que sorrimos descarados para o medo. Cercado por zumbis, sozinho no corredor, três balas no pente e sem chances de fuga. Medo. Pânico. Desespero. Graça. Ninguém além de mim mor...

I can't call it for you

É proibido dançar

J ovem sem sonhos procura emprego dos sonhos, que pague bem, tenha café em abundância e ocasionalmente permita aos funcionários deixarem a terra, o globo, o sistema solar e atingirem as galáxias mais distantes, aquelas cuja superfície é uma piscina de água salgada, sem mais informações, sem enviar sequer um torpedo informando da ausência prolongada, tendo como justificativa para tamanha benfeitoria apenas a remota teoria segundo a qual o ano sabático possui o condão de multiplicar por três a produtividade dos funcionários que retornam. Apenas dos que retornam, claro.