Considere uma cidade fantasma, seja qual for. A dos moradores expulsos por facção, por exemplo, lá onde tudo segue igual, mas diferente. Todos expulsos ou convidados a se retirar, ninguém pensou que seria interessante ficar, ninguém achou que poderia haver uma Bacurau cearense, ninguém talvez soubesse sequer o que era Bacurau. E assim a cidade se esvaziou e as pessoas se refugiaram na sede, ou seja, no centro, hospedadas nas casas de parentes ou amigos enquanto o pior vai passando, mas ocorre que é bem possível que o pior se instale de vez, ocupando o lugar das famílias. O mal de repente regendo os ritmos da vila, uma vila sem viva’lma, como nas histórias de Garcia Márquez, apenas uma vaca pastando no meio da praça. Eu vi isso no vídeo de um deputado bolsonarista que foi até lá para mostrar que as forças de segurança tinham perdido essa guerra, ele gravara aos berros andando na frente da matriz, ao fundo essa vaca malhada mastigando folhas de um galho de árvore baixo. Ne...
Quero pedir conselhos a uma IA, recomendações sobre o que fazer nas férias escolares ou os números da Mega Sena para jogar no final do ano, mas esqueço que a inteligência artificial não é genuinamente preditiva, ou seja, não se trata de um poder oracular capaz de antecipar o futuro. Na verdade, a IA é golpista, nesse sentido que atribuímos a alguém que se faz parecer com o que não é. Uma estelionatária, eu acrescentaria, certo de que não estou (ainda) melindrando os sentimentos da máquina, embora tenha lá minhas dúvidas sobre a real capacidade de elaboração dos sentidos e de sua autonomia subjetiva, sobretudo quando a IA soa quase como um milagre ao sugerir livros que pretendo comprar ou afiançar a qualidade de um filme de cuja história acabo gostando. Não sei se por profecia autorrelizável ou coisa assemelhada, o fato é que a IA costuma servir para tarefas do dia a dia, escolhas triviais das quais abro mão facilmente para economizar energia e tempo, ainda que os acabe consumindo...