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I was there

2012: vejam, sim. Reduzo tudo à metade. Leituras, horas gastas em frente ao PC. Sem internet, leio mais. Em compensação, passo mais tempo sentado, fumando, vendo a movimentação rasteira dos roedores que desfilam no terreno baldio. De pé, vejo-os melhor, apressados, copulando, atravessando distâncias. Parecem terroristas se escondendo de alguma força policial. Das corujas? Quem sabe. Reduzo tudo. Escrevo uma vez por semana. Não sei se vai dar certo. Muita coisa tem dado errado. Os dias da semana, a alimentação, as revistas, as cores do arco-íris. Sem esforço, sem esforço. Lado B quase parado. Voltando. 2012 é um bom filme. Muita explosão, muita correria, muito clichê. O cientista que prevê a catástrofe, o presidente – negro – que “afunda juntamente com o navio”, o tecnocrata inescrupuloso, os heróis ordinários, a dimensão humana da catástrofe, a rotina que, mesmo com o fim do mundo iminente, persiste. Está tudo lá. O filme vale porque consegue transmitir alguma verossimilhança. Digo: po...

ELa tomou o quarto, a sala, a cozinha

Ainda, ainda. Sobrevivendo. Depois da cortina de fumaça que invadiu o quarto há dois domingos, acordo sempre ressabiado, temendo ser definitivamente engolfado pelo negrume que vem do quintal das velhinhas. É uma sensação esquisita essa de ir dormir sem saber ao certo se no dia seguinte você vai acordar bem, deitado na cama ou na rede, ou dando voltas e voltas no centro gravitacional de alguma galáxia macabra. O fato é que ninguém sabe explicar direito do que se tratava, se restos de animais mortos ou pedaços de madeira, se pneus velhos ou vestidos considerados sem préstimo pelas idosas. De todo modo, fico intrigado com a durabilidade do efeito. Sempre que chego em casa, é como se tivessem acabado de atear fogo ao cesto de roupas sujas. Minhas camisas têm agora esse segundo ou terceiro odor: fumaça. Além dele, o cheiro de suor e fuligem da rua. Bom, era isso. Recado dado. Tenho menos de três semanas para escrever dois capítulos de uma monografia que, se não tem atrapalhado meu sono, é s...

VEjam: COragem, o Cão COVARDE, sou eu

LEt's SEE

Vamos ver se tudo fica bem neste fim de semana. Ver se o que tem de acontecer acontece. E se o que tem de parar de acontecer de fato se retrai, não acontece. Vamos ver se ele não esquece os amigos, se não cutuca inimigos, se não brinca com a vida. Vamos ver se respeita os limites, se logra equilíbrio, se não caminha lento, se não anda depressa, se não atropela, se não se atropela. Se não se atrapalha. Vamos ver se dança no ritmo, de acordo com a música, ou se, autista, ouve uma canção que ninguém mais toca, ninguém mais ouve. Vamos ver se tem espírito coletivo, se não celebra sozinho a festa da sexta-feira. Vamos ver se tem luz nos olhos, no sorriso. Vamos ver se se encanta, se desencanta. Vamos ver se para de falar, se consegue calar, se conclui as mudanças. Se reata as andanças. Se entra na dança. Vamos ver se respira aliviado, se desentope as artérias, se voa aprumado. Vamos ver, vamos ver.

Sem assunto III

Atrasadas: Palestina , jornal de domingo passado, Quem quer ser um milionário? . Aquele do Sebald. Muita coisa. Uma vida inteira atrasada. Parada em algum ponto. TINha que tomar à esquerda, mas segui em frente. Reduzir a marcha, mas avancei.

Sem assunto II

O que fazem no fim de semana? Segunda-feira, finados. Tenho dois tios lado a lado no cemitério. Mas não saio de casa. Nem para ver a irmã. Discurso. Amanhã compro televisão. Coloco tudo na sala-cozinha. Meu apartamento é mágico: saio da sala para a cozinha sem mover um centímetro. Apenas ali, parado. É a classe média apertada. Discurso. Breve: descrição do escritório do obstetra / ginecologista / sexólogo. Muitas vulvas de plástico decorando as paredes claras. Muitos quadros exibindo mulheres grávidas cercadas por flores, árvores, numa clara exacerbação pelo mau gosto da fertilidade feminina. Depois falo. Agora, agora. Mudança. Ainda não sei onde pus as coisas. Estou encontrando. MUdança. Detesto.