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Um mês para chamar de seu

Quando um mês começa com feriadão, quando um mês te saúda com saldo, quando um mês tem promessas e juras de amor elevadas à nona potência, quando um mês reserva cadinhos felizes – afinal daqui a pouco é Natal. Quando um mês consegue reunir tantas qualidades antes de completar quinze dias, é que talvez o pior ainda esteja por vir. Anotem isso. Não quero ser pessimista. Até porque talvez setembro seja apenas pra frente, de bem com a vida sempre.

Ima Oma Ama

De fato, de fato, examinando com atenção redobrada a escritura blogueira manipulada por Oskar, chega-se à mesma conclusão. Os textos apresentam quase sempre um mote, que pode ser inusitado, casual, relevante, oportuno, desvairado, non sense . A partir dele, constrói-se uma narrativa delirante, que nunca dura mais que dois parágrafos. Geralmente, interrompe-se na metade. Ali, uma ponta solta qualquer é puxada, e novos caminhos se desdobram à frente. Eles são explorados apenas superficialmente. Aliás, não há, supõe-se, qualquer intenção que nos faça crer que Oskar pretenda explorar minimamente o que quer que seja. É um surfista de águas rasas, um mergulhador de aquários, uma tartaruga marinha cujo maior temor é morrer afogada. Este é Oskar. Mas que dizer dos seus textos? Lembro agora das aulas de redação. Melhor, da estrutura simplificada sugerida por manuais devastadores. Anotavam introdução, desenvolvimento e conclusão. Tudo no mundo parece caminhar sobre esse tripé, parece existir sob...

SAÍDA MUHN RÁ

Um tempo depois, Y. responde. Eis a análise: “Teu texto: pontua a situação 1 a ser descrita; destrincha: desenvolve; tensiona. QUEBRA DE PARÁGRAFO. Termina a tensão. Referência metalingüística (só quem lê acompanha a noia do Blade Runner ). Retorna à situação 1. Destrincha, com repetições. Pega gancho do parágrafo anterior: leitor. Tensiona. Falsa conclusão. Tensiona. Retoma a situação 1. Conclui.”

Dialogo

Fui duramente criticado por Y. Para ele, os textos despejados por Oskar diariamente têm apresentado uma estrutura assemelhada. Estão repetitivos, considera. Em seguida, Y., que tem as suas metodologias, que investe na formação caótica, que vez ou outra se reveste duma acidez crítica, arriscou esboçar um desenho dessa estrutura. Na hipótese, ele lista os estágios por que passam os textos. Invariavelmente, as crônicas, sejam as de domingo ou as de terça-feira, seguem esse padrão estilístico. Os estágios não valem a pena ser citados. Mas, se quiserem, posso perguntar novamente. Têm algo a ver com... Falei com Y. enquanto tentava lembrar. Agora mesmo está conectado a um canal de conversas na internet. Estabelece vínculos com o passado recente em procura da estrutura, não registrada em pedaço de papel e por isso mesmo esquecida. Estou esperando. Digo novamente que estou à espera. Y. sinaliza um “Ok”. Volto em instantes.

CaÇANDO desandroides humanos

INDEPENDENTES? Um mergulho de través numa espécie de hiperrealismo cuja profundidade assusta, cuja tonalidade assusta, cuja distância assusta ainda mais. Explico: ou tento ao menos. Fui ao banco. Lá, vi as variações de um mesmo conjunto de notas emitidas por um rosto. Digamos que ela, a balconista, em conversa burocrática com a cliente do banco, engatilhou uma série de lugares-comuns que, flagrados, que, entrevistos, que, coloridos, que, expostos: Explodiram ali mesmo. Preciso logo de outra sessão de Blade Runner ... Quando digo hiperrealismo, estou falando disso. Desses algoritmos da existência, essas cadeias de gestos, esses pacotes reflexivos, esses movimentos sabidos. Sabidos porque intuídos ou sabidos porque repetitivos? Não sei. Mas vejam: somos tão parecidos. Aliás, ouso dizer: somos os mesmos. As mesmas conversas das domésticas numa fila de ônibus podem ser ouvidas nos corredores de uma universidade. As mesmas. Mas diferentes.

Conversa de botas batidas.

É como estar perto do mar. Só que não há mar. O Sol, o vento, o som. Vamos entrar. A claridade me cega. Vamos. O barulho do mar vem dos intestinos da fábrica? Certamente. Irônico. Nosso mar é industrializado. Parte dele. A outra parte tem os dias contados. Certamente. Você quer? Quero. Quer mesmo? Você sabe que sim. Quero. Havendo mar ou não, claridade ou não. Mas é bom que haja. Os dois. Sim. Vamos entrar. Estava esperando que dissesse.