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Falsas manchetes

Notícias do domingo. Como andam? Pisando firme? Escorregando nas curvas? Há que usar cinto de segurança. Há que ser rijo, mas cheio de graça. Há que olhar pra trás sempre, sempre, mas com a certeza de que o retrovisor reproduz uma cor estranha, diferente da usual. De que, fora dali, daquele instante, nada mais é. De que ele ou ela ou ambos vêm, falam, falam, dizem o que querem e depois seguem como se tivessem algum compromisso inadiável na próxima esquina. Mas não têm. Porque a vida é certamente a coisa mais estranha que já me aconteceu.

De trás da porta, ela salta; atira pratos e colheres

Quem diabos é você? A surpresa. A surpresa? Surpresa. Surpresas não enganam. Me engano se enganam, não enganam quando querem enganar. Engano seu. Surpresas vão e vêm. Quando menos se espera, batem à porta. E então? Então surpreendem. É o que costumam fazer. Previsível. Tanto quanto a falta delas. Das surpresas. Uma surpresa pode simplesmente não surpreender? Não creio. Pode ser surpreendida? Imagino que não. Pode confundir-se e esquecer-se do que realmente deve ser surpreendente? Se entendi bem, é deixar para trás o mistério e ater-se ao que deve ser comunicado, estritamente comunicado? Não. Obviamente, não nos entendemos. Obviamente, não dou a mínima. É bom. A propósito, ontem nos vimos. Ela e eu. Vinha sorrindo. Tem os dentes mais lindos. E o caminhar mais lírico. E as mechas mais soltas. E os olhos mais castanhos. E as mãos mais leves. E os quadris mais febris. Estamos falando da mesma mulher? Não creio. Surpreendente.

Medo da queda, do baque surdo da queda

Um dia a personagem amanheceu desejando convencer-se de que estava mal, mal das pernas, dos nervos, mal da boca, do peito, mal dos braços, mal dos sonhos, mal dos lábios, do pescoço, mal do umbigo, das coxas, dos pés, mal das costas. Mas não conseguiu. Não de todo, porque amar é realmente difícil, nem todos amam e, entre os que amam, há mesmo aqueles que se desperdiçam, se distraem enquanto o amor, esse sentimento volátil, esse sentimento concreto mas volátil, concreto, volátil mas também caprichoso, esse mesmo sentimento chamado enigmaticamente amor dobra à esquina procurando outro endereço. Então, por ser triste, por querer ser triste, por não querer mas ser triste ainda assim a contragosto e também por ler tanto e tão depressa e aspirar ardentemente a qualquer condição que a possa fixar para sempre num sopé de pedestal, ela acorda e se programa para ser alegre Mas só consegue enlutar-se. Só há o rastro cego dos dias, as roupas sujas, a alegria da família, o curso superior, o namorad...

As horas não têm fim

Se não há dinheiro, se não há conta e se não há árbitros verdadeiramente dispostos a separar o joio do trigo nessa disputa trivial, o que resta são as sementes do feijão que nunca jamais vingou porque aquele algodão, aquele algodão usado fora anteriormente castigado por lágrimas de crocodilo. Estado de consciência: levemente sonolento.