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A constante inconstante contínua continua

Continue, por favor. Não sei... Acho que chegamos num ponto ótimo. Não tenho certeza. Não mesmo. Nem eu. Apenas intuição, apenas um sentimento qualquer cuja natureza imprecisa é suficientemente precisa a ponto de querer dizer isto: pode ser. Condição inevitável, penso. Diria: única constante válida em todo universo. Concordamos. Novamente. Tenho gostado das coisas, do vento, do tempo, das noites, dos dias. Do corredor, dos travesseiros, da porta, da cortina vermelha, da mesa, do banheiro. Do canto do banheiro? Sim. E tenho gostado também das risadas, dos mingaus, dos almoços, das tardes passadas inteiras deitados na cama tomada por duas únicas almofadas velhas, sujas, listradas. Agora limpas. Inteiramente. Mas, quero saber: o que há? Nisso tudo, que há? Há tanto por vir. Tanto... Tenho gostado. Você disse. Disse coisas, coisas, coisas. Lembra? Lembro. Sim. Absolutamente. Quer que eu cante? Sempre quero. Estou pensando numa música. Por favor, espera. Encontrei. “O meu amor tem um jeito ...

Dali, daqui, de lá, dá cá

Aqui, aqui. O que fiz, o que deixei de fazer. Mais: o que deveria ter feito mas porque os astros de repente se atropelam em suas órbitas caóticas – porque a vida é assim acabei não fazendo. Porque tudo que é carrega o germe negativo da falta. Porque, na esquina, há tropeções, espirros, esbarrões, encontrões de gente estranha. Na esquina há gente estranha. Há gente. Mas a gente supera. Licença para gargalhar. As notícias vêm a seguir. Dentro em breve, relato minucioso, preciso, jornalístico das últimas bombeadas que a rodovia intravenosa a percorrer o corpo coloca em jogo sempre que qualquer um de nós resolve por sua conta e risco arriscar, apostando nos pinos vermelhos e não nos azuis. Vou indo. Indo... Meu Deus, pra onde?

NOTÍCIA VELHA, BEM VELHA

SEM REDE DE PROTEÇÃO SETENTA E DUAS FORMAS DE LER O MESMO POEMA. EM MANUAL DE ACROBACIAS N.1 , O POETA CARLOS AUGUSTO LIMA PROPÕE UM JOGO DE MOVIMENTOS QUE PARTE DOS GESTOS MÍNIMOS DO ACROBATA E CHEGA AO INESPERADO DA QUEDA LIVRE HENRIQUE ARAÚJO>>>ESPECIAL PARA O POVO Acrobacias de poemas, nomes, séries. Capítulos embaralhados de uma novela. Há algum tempo, o poeta Carlos Augusto Lima quis premiar amigos enviando-lhes um poema. O mesmo poema, mas com alterações mínimas, significativas. Escrito, o texto foi remetido por e-mail para uma lista contendo 72 nomes. Logo, havia 72 poemas diferentes. Misturados, mas obedecendo à ordem alfabética dos nomes dos destinatários, as dezenas de jogos ganharam a forma inesperada do livro. Chamam-se Manual de Acrobacias n.1 e têm lançamento hoje, às 19 horas, no restaurante Verde Lima, na Aldeota. Os poemas tratam da repetição, do esgotamento, da linguagem. Em entrevista a O POVO , Carlos Augusto descarna o seu Manual: quis incomodar, jogar...

Cores incores

O avião sumiu. Muitas pessoas assistem ansiosas ao jornal esperando novas informações sobre o paradeiro da aeronave. Aonde foram? Quanto tempo pretendem demorar-se? Voltam? Se não, estarão agasalhados? Terão comida, remédios, água suficientes? Morreram todos, alguns vivem, quantos sofrem? Ninguém sabe. Nem mesmo eu, que não tenho sequer a menor suspeita. Quem está por trás do acidente também é algo que não posso responder. Por enquanto, vejo atônito a sugestão de tragédia elaborada atrás das setas ligando o continente europeu ao Brasil. Uma longa seta vermelha com um ponto-chave situado a alguns centímetros do arquipélago de Fernando de Noronha. Nada mais que isso, nada mais que isso. Eles se perderam ou nós nos perdemos? A estátua vê ou é vista? As duas coisas? Não sei mesmo. Há trinta dias tenho sonhos estranhos. Sonhos tristes, alegres. Claros, escuros. Distantes, próximos. Sonhos polares. Ora solares, ora noturnos. Sonhos mudos, escuros, repletos de um silêncio surdo. Há sonhos par...

Eventos improváveis geram resultados inesperados

Venho do fim de semana. Venho da pia, do fogão, da cama. Venho do macarrão de domingo. Vou para o começo de semana. Hoje é segunda-feira; amanhã, terça. Depois disso, ninguém sabe. E depois, pior: há apenas a linha que divide a insciência do mais completo desconhecimento. Há apenas a potência, a promessa. E o sábado, que é sempre melancólico. E o domingo, que vira segunda-feira num piscar de olhos. E novamente a semana de cinco dias. E, em seguida, o sábado, o dia mais melancólico, o dia mais melancólico. Depois disso, nada. Um evento qualquer pode desorganizar uma série – uma série de outros eventos? Um evento pode estar carregado de promessas, mas nunca passar disto: promessas? Um evento qualquer pode ser falso? Pode não haver, existir? Pode estar fecundado, mas nunca passar disto: um vazio? Pode alimentar sugestões de felicidade: mas nunca passar da espera cansada, do flerte sem correspondência, do beijo concedido? Um evento qualquer aparentemente verdadeiro e simples e pleno pode ...

Ora, ora...

Querendo, é só passar aqui e ler. Vamos indo, vamos indo.