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O SOM QUE VEM DO CORAÇÃO

Há uma semana. Uma semana atrás não havia nada nos ouvidos. Hoje, esse barulho infernal. Uma broca de dentista gigante atormentando as virgens do bairro? Mas, eu não sou mais virgem. O que é isso? Uma brincadeira sem graça? Brocas não fazem tanto barulho. Começa às seis da manhã, termina às seis da noite. De 6 às 18, um sacolejar de moléculas sonoras invade as casas – pequenas, grandes, médias, enormes. Desperta sabe-se lá que sorte de ondas de irritabilidades em mães desesperadas. Quantos meninos terão apanhado desde a última segunda-feira por causa do barulho desgraçado que não cessa? Quantas meninas terão sido despachadas como criminosas de guerra para o quarto ou, pior, para a pia da cozinha, espécie de Guantánamo da casa? Não sei. Apenas observo os fatos do cotidiano e os reporto depois sob forma de relatos sem forma nem graça. Apenas os transporto para o mundo dos que sabem alguma coisa sobre sons infernais.

IF I WAS eu mesmo

Esperar a chuva passar tem sito uma constante. Uma das poucas nesse começo de ano. Agora, fraquinha, não mete medo em ninguém. Há menos de cinco minutos, era diferente. Há menos de cinco minutos sempre é diferente. O que acharam do cartaz logo abaixo? Gostaram? O filme é... Bom, um novo filme sobre microcosmo de estudantes americanos com problemas. Falo depois. E não se esqueçam das sombrinhas.

After that, after that... Nada mais...

STREETBOY

Desde o início da manhã os meninos correm na rua. No começo, estavam roxos. Agora, acho que desapareceram. Queria sair na rua e tomar banho. Ótimo. Que grande idéia. Vou até o quintal molhar os pés. Ouço os gritos dos meninos. Um carro para e enche tudo de funk. Uma batida repetida, uma onda sincopada, uma sonoridade sem pé nem cabeça. Não gosto de funk. Os meninos adoram. A festa fica melhor porque tem música e banho de chuva. E a água está garantida até as 10 da noite, dizem.

ENQUANTO A CERVEJA NÃO VEM

O poeta subiu ao palco sem estardalhaço. Depois, aprontou. Arrotou alto, correu, esperneou, gritou, cuspiu no casal que estava no frontstage . O poeta arrasou. Sua performance foi perfeita. Uma musicalidade, uma atitude endiabrada. Cabelos assanhados, blusa amassada, calça rasgada, tênis sem cadarços. O poeta sempre arrasa. Gostei principalmente da parte em que ele grita. Ele olha, mira o papel que tem em mãos, olha novamente a platéia, que se esquiva intuitivamente com medo dos cuspes. Mas ele não cospe. Recusa-se a fazer o que se espera dele. Não cospe. Ele grita. Um urro que varre todo o auditório, que ecoa por todo o centro cultural e chega até a esquina onde ficam as putas à espera dos gringos. O poeta sabe que o momento é mágico, sua consciência projeta-se com alguma dificuldade mas inteiramente dona de si através das caras e caretas. Dos esgares, dos vômitos, dos sustos, dos vários corpos embriagados que lotam o teatro do centro cultural naquele final de sábado. Seu golpe é cert...

Para azia e má digestão, beba RAKUMIN

O CASO DO garçom

O garçom é jovem. (Tenho pena dos garçons que servem mesas de clientes como aquele.) Quero uma cerveja. E tira esse gato daqui, rapaz. Rapaz, traz um limão de verdade, leva essa porcaria. Rapaz, traz um copo americano. E uma cerveja. Rapaz, o limão daqui é péssimo, certo? Traz um refrigerante de limão e outra cerveja. Olha, vou pedir novamente: leva este gato daqui, ele fica arranhando, não gosto disso. Não gosto de ser arranhado enquanto bebo e como. Olha, seu atendimento é ótimo. Toma dois reais. (Enfia teu dinheiro no cu, pensou o garçom). E estendeu a mão.