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STREETBOY

Desde o início da manhã os meninos correm na rua. No começo, estavam roxos. Agora, acho que desapareceram. Queria sair na rua e tomar banho. Ótimo. Que grande idéia. Vou até o quintal molhar os pés. Ouço os gritos dos meninos. Um carro para e enche tudo de funk. Uma batida repetida, uma onda sincopada, uma sonoridade sem pé nem cabeça. Não gosto de funk. Os meninos adoram. A festa fica melhor porque tem música e banho de chuva. E a água está garantida até as 10 da noite, dizem.

ENQUANTO A CERVEJA NÃO VEM

O poeta subiu ao palco sem estardalhaço. Depois, aprontou. Arrotou alto, correu, esperneou, gritou, cuspiu no casal que estava no frontstage . O poeta arrasou. Sua performance foi perfeita. Uma musicalidade, uma atitude endiabrada. Cabelos assanhados, blusa amassada, calça rasgada, tênis sem cadarços. O poeta sempre arrasa. Gostei principalmente da parte em que ele grita. Ele olha, mira o papel que tem em mãos, olha novamente a platéia, que se esquiva intuitivamente com medo dos cuspes. Mas ele não cospe. Recusa-se a fazer o que se espera dele. Não cospe. Ele grita. Um urro que varre todo o auditório, que ecoa por todo o centro cultural e chega até a esquina onde ficam as putas à espera dos gringos. O poeta sabe que o momento é mágico, sua consciência projeta-se com alguma dificuldade mas inteiramente dona de si através das caras e caretas. Dos esgares, dos vômitos, dos sustos, dos vários corpos embriagados que lotam o teatro do centro cultural naquele final de sábado. Seu golpe é cert...

Para azia e má digestão, beba RAKUMIN

O CASO DO garçom

O garçom é jovem. (Tenho pena dos garçons que servem mesas de clientes como aquele.) Quero uma cerveja. E tira esse gato daqui, rapaz. Rapaz, traz um limão de verdade, leva essa porcaria. Rapaz, traz um copo americano. E uma cerveja. Rapaz, o limão daqui é péssimo, certo? Traz um refrigerante de limão e outra cerveja. Olha, vou pedir novamente: leva este gato daqui, ele fica arranhando, não gosto disso. Não gosto de ser arranhado enquanto bebo e como. Olha, seu atendimento é ótimo. Toma dois reais. (Enfia teu dinheiro no cu, pensou o garçom). E estendeu a mão.

NADA SINCRONIA

Ela tinha um sorriso de patinadora, um sorriso gelado e branco de patinadora, de atleta, um sorriso, um riso alegre, um riso medalha de ouro de ginasta, um bater de braços e pernas, uma curva, uma marca no joelho. Ela tinha um sorriso de nadadora. De quem tem tudo sincronizado, os braços certinhos combinando no segundo exato, as pernas exatas combinando no minuto certinho. Ela sorria aquele mesmo riso e ria o mesmo sorriso de nado sincronizado. Um sorriso gelado. Um sorriso cortado por cerdas, cortado por dois pares de sapatos. Cortado por dois solados cortantes. Mas, ali, parecia derreter.

Good night, Dayse!

O que faz de um filme um bom filme? O que entra na avaliação? Melhor dizendo: por alguns filmes têm a capacidade de nos emocionar, de nos tocar, enojar ou revoltar e outros simplesmente passam em brancas nuvens, como se nunca tivessem sido assistidos por milhares de pessoas que foram ao cinema à procura de algum sentimento cuja essência não sabemos explicar direito? Essa é uma grande questão. E ela surge porque só hoje pude ver O curioso caso de Benjamin Button . Foram duas horas e meia no cinema, sentado, quieto, olhando pra frente, sem visão periférica, sem movimentos, sem piscadelas, sem telefones, sem conversas paralelas. Foram duas horas e meia de hipnose. Mas, o que faz de Benjamin Button um bom filme? Seus atores? Sua fotografia? Sua maquiagem? Seu roteiro? Seu tema inusitado? O fato de ter sido adaptado de um conto de Fitzgerald? Nada disso. Ou tudo isso. Primeiro, um homenzinho velho mas novo, feio mas bonito ganha qualquer platéia em qualquer lugar do mundo. Um bebê jogado ...

SERVIÇO DE INUTILIDADE PÚBLICA

O caderno O ETERNO VÔO DE POE já pode ser lido no site do jornal O Povo . Precisamente, AQUI E AQUI . Uma entrevista, duas reportagens e outras coisinhas que enfeitam a sala-de-estar. Geniais, as ilustrações são Carlus - nem sei se essa é a página oficial do cara. De qualquer forma, há alguns trabalhos por lá. O desenho da capa merece virar pôster no guarda-roupa de qualquer fã de Poe.