A igreja é uma das três construídas por estrangeiros
que chegaram à cidade ainda no século XVII, quando a região era habitada por
índios de várias tribos e os papas católicos – há outros papas? - abriam mais
filiais mundo afora que qualquer rede de comida fastfood.
Hoje, aprendemos que os índios ou foram
mortos ou expulsos ou apenas ficaram no seu canto fingindo que não era com
eles, como ficamos quando alguém nos pede algum favor que, por um motivo que
não convém revelar, simplesmente não queremos prestar, e todos sabemos que há
mais momentos assim em nossas vidas egoístas do que gostaríamos de admitir.
A igreja continua lá. É imensa, agora vejo,
e se empoleira no ponto mais alto da cidadezinha, uma pedra gigantesca que se
alça a mais de 900 metros acima do nível do mar. Daí o seu nome: igreja do céu.
O céu é menos o lugar onde mora o Deus e mais o espaço formado por gases de
composição química variada. O que confere o tom de azul é o predomínio de um
desses gases. Pesquisem no Google. Está tudo lá.
Então, a história que pretendo contar tem
essa cidade, tem uma igreja, tem os índios e os caçadores, escultores,
viajantes, gente branca, preta e parda, tem animais. E tem alguém encarregado de narrar os
acontecimentos.
Há também uma lenda, que se supõe tenha
sido criada por índios: um dia, quando a igreja fosse terminada e tudo
estivesse pronto, o que de fato levou muitos anos, não sei ao certo quantos, a
vida nova dos colonizadores, as novas construções, o novo modo de adorar as
divindades e de lidar com a natureza, as novas famílias, a nova comida, as
novas roupas, os novos cheiros e doenças, quando tudo finalmente parecesse ter
entrado nos eixos no novo mundo e as primeiras crias das primeiras famílias de
forasteiros começassem a vingar, crescendo e correndo no mato, nessa hora sobreviria
o mar, o grande mar, com grandes ondas, grandes pedras, e inundaria tudo que
existisse na cidade. Nada escaparia às águas.
Nem mesmo a igreja, que, à exceção de uma porção
do teto, ficaria inteiramente debaixo d’água, servindo de cama para as baleias.