
Uma experiência diferente, cheia de entusiasmo e dor, foi a da leitura de A chave de casa, de Tatiana Salem Levy.
O romance é de 2009, creio, e ganhou muitos prêmios, inclusive o São Paulo de Literatura, mas só agora tive o prazer de ler. Depois dele, Tatiana publicou Dois rios, também pela editora Record.
A chave de casa foi a estreia da autora, cuja cidadania não sei se é brasileira ou portuguesa ou se ambas. O fato é que a menina nasceu em Portugal, mas veio para o Brasil com a família ainda pequerrucha. Bom, o romance, que foi publicado primeiro em Portugal, é forte, bonito, doído e cheio de tesão. Conta a história de uma mulher que, depois de receber uma chave das mãos do avô, decide colar as pontas soltas de uma esfiapada trama familiar e, claro, pessoal.
E viaja. Uma viagem que tem que ver com busca das raízes, sim, mas não de uma maneira chata ou acadêmica. É mais um procurar-se em todos os cantos que iguala a personagem a qualquer outra pessoa. De partida, sabemos que se trata de algo que Tatiana chama de “autoficção”, ou seja, um dado pessoal ficcionalizado.
Sobrepondo tempos diferentes, A chave de casa expõe fatias da mesma personagem, que se iluminam e se chocam ao longo das páginas. Livro poderoso, sugestivo, que perdura.
Se tem algo que sobra, porém, é a noção de que sempre tentamos abrir com as ferramentas do presente as portas que deixamos pra trás, numa revisita que se torna especialmente frustrante ao percebermos que o passado se transforma mais que o próprio presente. Dos tempos, é, de longe, o mais movediço e traiçoeiro.
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