SINOPSE DE VIDEOCLIPE: homem desgovernado esbarra em mulher em saguão de aeroporto quase vazio, a carteira dela cai, homem finge que apanha, mas se perde na imensidão do olhar da moça, um tipo afetado e longilíneo desfilando roupas de época.
E o que se segue é ainda mais intrigante: sob o arco espesso formado por densa cabeleira negra, materializa-se ninguém menos que Lulu Santos, que logo se agacha, colhe graciosamente a carteira ou as cédulas ou qualquer outro pedaço de papel desimportante a esta altura dos acontecimentos. Talvez satisfeito por haver ensejado fortuito encontrão entre dois futuros amantes, o cantor sorri, desenhando no ar um círculo com o dedo indicador no exato instante em que pronuncia as palavras "seus olhos".
A partir dali, como um bom repórter de rua e tal qual uma aparição, Lulu passará a acompanhar os passos dos enamorados.
O entreato da história é marcado por dancinhas de transeuntes anônimos, gente contratada para figurar no videoclipe sem antes ter sido informada de que sua imagem ficaria registrada para sempre como a dos bobões que ficam dançando sem música, e sem motivo aparente.
O desenlace desse estágio da narrativa é nebuloso, mulher-sensação fica piscando feito luz de Natal, donde se conclui que "estética sanfonada" utilizada por câmeras em programas da TV Diário atualiza elementos fulcrais nos anos 1980, o que, francamente, pode ser bom ou ruim.
De todo modo, homem e mulher-objeto voltam a se encontrar, agora fora do saguão do aeroporto, precisamente no estacionamento, onde um velho calhambeque cor de bosta os aguarda, e é aí que o que parecia meramente um filme resignado com os pressupostos da comédia romântica alça voos mais altos, firmando os dois pés num terreno pantanoso no cinema.
O terreno dos musicais.
Somente após elaborados movimentos de balé clássico, o casal entra no carro, primeiro ela, depois ele, e parte para, na sequência, o que se mostra uma jornada psicodélica com paradas em 1) uma piscina (ao que tudo indica no clube de férias da Teleceará) e, finalmente, em um 2) belíssimo quarto de hotel, onde, presume-se, a sagração da carne se consumará.
Depreende-se disso tudo que o final é claramente uma reviravolta no roteiro, de que se esperava trama romântica nos moldes tradicionais, com casamento e filhos e consultas ao oculista. Contrariando expectativas, porém, homem e mulher concluem périplo nonsense na cama.
Ao som de Um certo alguém e tendo como patrono ninguém menos que o rei do pop brasileiro, Lulu Santos.
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