Talvez não esperasse, e de fato não esperava, a vida sempre uma sucessão de vocábulos assumidamente condicionais, uma enervante sequência de dezenas não premiadas, um nome cujo começo, meio e fim não se confundiam o com seu. Mas, se querem saber, estava tudo bem, acordava contente porque tinha essa brisa passando pela janela e ainda que as roupas sujas formassem uma espécie de Estrela da Morte privé inexpugnável estacionada meio que por milagre a dez centímetros do próprio rosto, imaginava cedo ou tarde teria forças para dar vencimento a tanto traste.
Coleciono inícios, restos de frases, pedaços e quinas das coisas que podem eventualmente servir, como um construtor cuja obra é sempre uma potência não realizada. Fios e tralhas, objetos guardados em latas de biscoito amanteigado, recipientes que um dia acondicionaram substâncias jamais sabidas. Se acontece de ter uma ideia, por exemplo, anoto mentalmente, sem compromisso. Digo a mim mesmo que não esquecerei, mas sempre esqueço depois de umas poucas horas andando pela casa, um segundo antes de tropeçar na pedra do sono ou de cair no precipício dos dias úteis. Às vezes penso: dá uma boa história, sem saber ao certo de onde partiria, aonde chegaria, se seria realmente uma história com começo, meio e final, se valeria a pena investir tempo, se ao cabo de tantos dias dedicado a escrevê-la ela me traria mais felicidade ou mais tristeza, se estaria satisfeito em tê-la concluído ou largando-a pela metade. Enfim, essas dúvidas naturais num processo qualquer de escrita de narrativas que não são
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