Como está a vida? Muito boa.
O corpo pede socorro. Tenho as duas mãos inutilizadas por causa de uma década inteira batucando teclados de computador. Descobri que o joelho direito não suporta mais um domingo no parque, subindo e descendo escadarias. As costas também dão sinal de cansaço.
Trinta anos querem dizer isso mesmo? Escrevo porque preciso esticar os dedos. Do contrário, eles ficam encolhidos, e não servem sequer para trabalhar.
Abaixo, algumas edições da revista Aerolândia, uma parceria que deu certo por oito semanas mas, nos últimos dias, vinha fazendo água. Como disse o outro: as pessoas se cansam. Reconheci.
A revista era um brinquedo. Foi divertido vê-la nas mãos imaginárias de leitores esse tempo inteiro. Foi mais divertido ainda fazer troça com a cidade, sem, em qualquer instante, levar a sério nem a nós mesmos. Deus, como encarar com alguma gravidade uma coletânea de textos publicada na internet sob nomes como Deusimar de Deus, Deusdete e Ruilivínio?
Ainda assim, muita gente se sentiu espetada. Fortaleza, como qualquer lugar do mundo, é um caldeirão de egos. E o que dizer da “área cultural”? Era inevitável espezinhar alguns. Os mais suscetíveis, porém, foram longe, e destilaram amarguras em quatro cantos. Falo em amarguras sabendo que cometo injustiças. Afinal, nem tudo está perdido. Intimamente, dava risada. Publicamente, respondia cada uma das críticas que nos faziam, posando de editor e porta-voz do projeto mais amalucado de que já fiz parte. Como se fosse realmente necessário explicar a sátira, como se houvesse algum sentido em dizer: “Faço graça porque posso, não dou valor a troço”.
De qualquer maneira, pensando no que restou de tudo, se não é muito cedo para tentar encontrar algum saldo desse gracejo, chego a uma conclusão: o que restou foi um quadro da cidade. Um quadro estranho, turvo em alguns pontos, mas engraçado. Fortaleza, mesmo salpicada de gente chata, tem um espírito muito moleque, gentil e traiçoeiro. Se você não levar muito a sério as poses, os vômitos de cultura, as camisas de flanelas, os códigos de civilidade urbana pós-qualquer coisa, os óculos de aro vermelho ou verde, a musculatura alva e tatuada da classe média ilustrada bebericando café nas livrarias e se entupindo de sintéticos na alcova, a onda de bicicletas velhas, os novos hippies com plano de saúde e dinheiro certo para roupas estudadamente velhas e as festas descoladas em cabarés do Centro, dá até pra pensar em viver aqui.
E como nunca pensei em viver noutro lugar que não Fortaleza, fico contente que uma parte razoável da cidade seja habitada por gente legal.
Maravilhosa, disseram alguns. Lamentável, murmuraram outros. Explicar dá preguiça, mas a revista foi isso mesmo. Metoforicamente, foi um peido no sovaco, e quem ia passando na rua, bem na hora, se assustou ou riu. Só alguns se enfezaram. Pra esses, a gente peida novamente, agora com a boca soprando essa parte molinha da mão, que fica entre o polegar e o indicador. É um peido mais rasgado, inodoro, asséptico, mas é de coração.
O corpo pede socorro. Tenho as duas mãos inutilizadas por causa de uma década inteira batucando teclados de computador. Descobri que o joelho direito não suporta mais um domingo no parque, subindo e descendo escadarias. As costas também dão sinal de cansaço.
Trinta anos querem dizer isso mesmo? Escrevo porque preciso esticar os dedos. Do contrário, eles ficam encolhidos, e não servem sequer para trabalhar.
Abaixo, algumas edições da revista Aerolândia, uma parceria que deu certo por oito semanas mas, nos últimos dias, vinha fazendo água. Como disse o outro: as pessoas se cansam. Reconheci.
A revista era um brinquedo. Foi divertido vê-la nas mãos imaginárias de leitores esse tempo inteiro. Foi mais divertido ainda fazer troça com a cidade, sem, em qualquer instante, levar a sério nem a nós mesmos. Deus, como encarar com alguma gravidade uma coletânea de textos publicada na internet sob nomes como Deusimar de Deus, Deusdete e Ruilivínio?
Ainda assim, muita gente se sentiu espetada. Fortaleza, como qualquer lugar do mundo, é um caldeirão de egos. E o que dizer da “área cultural”? Era inevitável espezinhar alguns. Os mais suscetíveis, porém, foram longe, e destilaram amarguras em quatro cantos. Falo em amarguras sabendo que cometo injustiças. Afinal, nem tudo está perdido. Intimamente, dava risada. Publicamente, respondia cada uma das críticas que nos faziam, posando de editor e porta-voz do projeto mais amalucado de que já fiz parte. Como se fosse realmente necessário explicar a sátira, como se houvesse algum sentido em dizer: “Faço graça porque posso, não dou valor a troço”.
De qualquer maneira, pensando no que restou de tudo, se não é muito cedo para tentar encontrar algum saldo desse gracejo, chego a uma conclusão: o que restou foi um quadro da cidade. Um quadro estranho, turvo em alguns pontos, mas engraçado. Fortaleza, mesmo salpicada de gente chata, tem um espírito muito moleque, gentil e traiçoeiro. Se você não levar muito a sério as poses, os vômitos de cultura, as camisas de flanelas, os códigos de civilidade urbana pós-qualquer coisa, os óculos de aro vermelho ou verde, a musculatura alva e tatuada da classe média ilustrada bebericando café nas livrarias e se entupindo de sintéticos na alcova, a onda de bicicletas velhas, os novos hippies com plano de saúde e dinheiro certo para roupas estudadamente velhas e as festas descoladas em cabarés do Centro, dá até pra pensar em viver aqui.
E como nunca pensei em viver noutro lugar que não Fortaleza, fico contente que uma parte razoável da cidade seja habitada por gente legal.
Maravilhosa, disseram alguns. Lamentável, murmuraram outros. Explicar dá preguiça, mas a revista foi isso mesmo. Metoforicamente, foi um peido no sovaco, e quem ia passando na rua, bem na hora, se assustou ou riu. Só alguns se enfezaram. Pra esses, a gente peida novamente, agora com a boca soprando essa parte molinha da mão, que fica entre o polegar e o indicador. É um peido mais rasgado, inodoro, asséptico, mas é de coração.
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