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RESENha

UM ET REALMENTE VERDE

NOVO FILME DE SCOTT DERRICKSON, O DIA EM QUE A TERRA PAROU, QUE TRAZ KEANU REEVES COMO O EXTRATERRESTRE KLAATU, ATUALIZA UM CLÁSSICO DA FICÇÃO CIENTÍFICA

HENRIQUE ARAÚJO>>>ESPECIAL PARA O POVO

Há uma clara diferença entre os alienígenas que estrelam as versões de 1951 e de 2009 do longa-metragem O dia em que a Terra parou (The day the Earth stood still): enquanto o extraterrestre vivido por Keanu Reeves no filme que estréia amanhã tem preocupações ambientalmente responsáveis, seu antecessor, um Klaatu cuja nave pousou nos Estados Unidos durante a Guerra Fria, estava pouco se lixando para o que poderia acontecer com o planeta Terra. Desde que a raça humana não cometesse a imprudência de ultrapassar as fronteiras intergalácticas usando os seus foguetes movidos a energia atômica, qualquer coisa seria permitida. Respeitada essa cláusula fundamental para a manutenção da paz no vácuo sideral, não cabia a eles – aos ETs – se meterem no que quer fosse. Os humanos podiam muito bem matar-se uns aos outros.

Dirigido por Scott Derrickson (O exorcismo de Emily Rose), com Jennifer Connelly e Jon Hamm no elenco, a refilmagem do clássico de Robert Wise segue outros caminhos. Diferente do Klaatu interpretado por Michael Rennie, o de Reeves é menos egoísta. E também mais implacável. Seu primo distante é galante e educado. De modo discreto, infiltra-se na sociedade americana da época para estudar os seus modos. Aluga um quarto de pensão aqui, ensina matemática a um garoto ali, visita um cemitério acolá. Nele, assusta-se ao descobrir que, sob aquela camada de areia, havia dezenas de corpos de seres humanos mortos em guerras. No fundo, porém, resta sempre algo de cinismo no personagem.

Embora seja um tanto inumana e robótica, a versão “novo século” de Klaatu é biblicamente justa. Ela não pretende estudar modos e costumes dos terráqueos. Não há tempo. Uma decisão foi tomada, e suas conseqüências não parecem ser nada boas. Os humanóides dispuseram de chances suficientes para viver em harmonia e preservar o ecossistema local. Não conseguiram. Uma espécie de ira divina se abaterá sobre a raça.


Dá para entender? As diferenças entre o novo e o velho Klaatu têm suas razões. Nos dois filmes, o alienígena vem à Terra não apenas a uma velocidade distinta. Antes disso, ele vem por motivos distintos. Em um, para resguardar a sua própria raça e, de passagem, espantar-se com a estupidez dos humanos. No outro, o objetivo é proteger o planeta e todas as formas de vida que o habitam. Menos uma. Acertou quem pensou no estágio superior do macaco.

A política terrestre e os ETs

Seis décadas atrás, havia a histeria anticomunista e a sombra permanente de uma nova guerra envolvendo superpotências. Nesse contexto, os norte-americanos experimentavam foguetes cujo mecanismo de propulsão alimentava-se da energia resultante da fissão nuclear. A inovação assustava não apenas os soviéticos, arquiinimigos de então – do outro lado da galáxia, os extraterrestres estavam de orelha em pé. Logo uma patrulha, que percorre a galáxia a seis mil Km/h, é destacada para solucionar o problema. E as criaturas finalmente pousam em solo terráqueo. O ano é 1951.

Na atualização de Derrickson desse ícone da ficção científica, o grande nó que atravessa a garganta da humanidade é a degradação do meio ambiente. Não há energia atômica ou regimes totalitários em jogo, mas um planeta que pede socorro e é ouvido a anos-luz. Logo uma bola fulgurante viaja a 30 mil Km/s e estaciona no Central Park, em Manhattan. Dela, um hominídeo e um robô saltam. As honras da casa são hostis. Entretanto, Klaatu insiste: ele quer falar aos líderes mundiais algo que poderá transformar radicalmente os destinos de todos. Assim como havia acontecido com o seu colega de décadas atrás, a criatura tem o pedido rejeitado.

Em um e outro filme, o que se segue obedece a lógicas diferentes. E eis que, sob certo ponto de vista, o original é superior ao remake. Com todos os seus defeitos, o filme de Robert Wise sabe criar uma atmosfera intrigante, conferindo a sua história algum suspense. O longa protagonizado por Reeves não apenas dispensa a aclimatação do alienígena na Terra. Ele também transforma sua presença aqui em uma malfada perseguição policial. No final, assiste-se a uma conferência politicamente correta. No pior sentido.

SERVIÇO:

O dia em que a Terra parou (The day the Earth stood still), de Scott Derrickson, com Keanu Reeves, Jennifer Connelly, Jon Hamm e Kathy Bates. Estréia amanhã, 9.

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