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Tinha a intenção infantil de escrever sobre o assunto X. Ocorre que, consideradas algumas variáveis, não demorou para que chegasse à conclusão de que seria mais interessante falar do assunto Y. Tão logo se apresentou, Y me pareceu bastante atraente e, como se diz em jornalismo, factual. Nesse ínterim, porém, havia esquecido a natureza do assunto X. Pior: na ânsia de lembrar algo que me fizesse delinear X, deixei Y escapulir. Perdi dois assuntos de uma tacada só. Talvez por isso pessoas anotem ideias. Por enquanto, nossa cabeça não funciona ainda no esquema cloud . No máximo, ficamos nas nuvens. O impacto do sistema cloud é um bom assunto. Fica registrado.

Rubem Alves despede-se (Folha de S. Paulo)

Despedida Minha alma é movida pelas ausências; mas, nos jornais, não há lugar para ressurreições ESSA CRÔNICA é uma despedida. Resolvi, por decisão própria, parar de escrever em Cotidiano . Devo ter perdido o juízo. Minha decisão contraria um dos dois maiores sonhos de cada escritor. Primeiro, o sonho de ser um best-seller. Encontrar algum livro seu nas prateleiras da livraria Laselva, nos aeroportos. Confesso: sou vítima dessa vaidade. Mas não aprendo a lição. Nos aeroportos, vou sempre visitar a Laselva na esperança de lá encontrar um dos meus livros. Saio sempre desapontado. O outro sonho dos escritores é ter seus textos publicados num jornal importante: ser lido por milhares de leitores. O que significa reconhecimento duplo: do jornal que os publica e dos leitores. Isso faz muito bem para o ego. Todo escritor tem uma pitada de narcisismo. Fernando Pessoa tem um poema que diz assim: "Tenho dó das estrelas luzindo há tanto tempo, tenho dó delas..." E ele se pergunta se ...

Antes da prova final

TEMA DA REDAÇÃO : Quanto de arbitrariedade e de talento e de ciência há em ser-se feliz? Instruções::: 1. Escreva uma dissertação com o mínimo de 20 linhas e o máximo de 25 dizendo o que pensa sobre o assunto. Seja sincero, escreva o que geralmente seus professores não pedem que escreva. Recomenda-se rascunhar o texto em um caderno de brochura antes de partir finalmente para a redação em si. 2. Mais algumas recomendações. Use caneta azul ou preta de ponta porosa, jamais rasure ou utilize corretivo, não consulte o colega ou a colega para trocar ideias quanto à forma ideal de apresentar seu trabalho. 3. Qualquer forma é forma, qualquer trabalho é esforço reconhecido pedagogicamente. 4. Lembre-se: seja coerente, coeso e confiável. Nunca conspire, nunca se acovarde. 5. Cumpridas todas as exigências e recomendações supracitadas, tome do papel. Amasse-o. Isso mesmo: amasse o papel. É terminantemente proibido fazê-lo em picadinho ou queimá-lo ou, antes de degradá-lo, registrar o esc...

Canto de quina

É do tipo que formula possibilidades enquanto caminha na rua e ri das possibilidades que formula enquanto caminha na rua. Não gargalha, apenas ri de través, de canto, o suficiente para que ganhe ar de mistério. Ou de bobo, decerto. O sorriso que sabe a canto pode estirar-se, ganhar outra margem, abraçar oposto e até a boca inteira? Isso também acontece enquanto anda pela cidade.

coração é o quê, pergunta circulando na rede mundial de computadores

Coro de respostas. coração é um engenho. Um engenho perigoso, saudoso, oneroso, anguloso. Um engenho recorrente, quente, ausente, pertinente, intermitente. coração é o gênio. Gênio banal, anal, sacal, boçal, causal – dispensa causa, concentra-se nos efeitos. coração é gerência. De temas, nomes, pele, cheiros. Software livre, privado, privatizado, privativo, priápico, programado para matar, matar-se. maltratar-se.

Numa galáxia apenas distante

Difícil é compreender, não compreender mas aceitar, digamos compreender e aceitar a trajetória ordinária de todas as coisas que se movem, movem e respiram, movem, respiram e amam, não necessariamente nessa ordem. Caspas de galáxias, piolhos teoréticos, lêndeas de deuses incontornáveis, embora o zoológico seja composto unicamente por espécies vindas sabe-se quem de onde, quando, por quê, não custa apontar que, esquecidas todas as variáveis criacionistas, deístas ou o que sejam o que achamos que sejam, o que resta são possibilidades poucas, quase ralas, possibilidades que escorrem rápidas com o tempo, rápido. Uma coisa ou outra, ir ou ficar, querer ou dispensar, aqui, ali. Há limites, há final, há ponto de chegada e de saída, decisões constroem-se e nos constroem num passe de mágica. Sem mágica. A vida é mágica sem mágica. É vida. De repente, há dois filhos lindos, esposa amorosa, prestações e o peru de Natal para adorar. Atravessando o espaço, há a energia escura, indevassável.