Paralisado por uma dúvida existencial sobre o que vestir na folia, fui até uma loja no Centro comprar fantasia de Carnaval para a festa que se avizinha e notei entre os presentes no estabelecimento um gosto sortido por novidades, coisas que eu nunca tinha visto antes e adereços até então desconhecidos – diria mesmo extravagantes.
Procurei então ajuda com uma vendedora, que me disse sorridente que, a pedido do gerente, precisou renovar as prateleiras de última hora depois de um surto de procura por peças que antes estavam encalhadas ou cuja fabricação jamais fora cogitada por nenhuma costureira ou artesã de Fortaleza.
E citou como exemplo a fantasia de Fiscal de *. Ante minha expressão de surpresa, ela cuidou em explicar em pormenores. Vendida a módico R$ 1,99, continuou a simpática funcionária da loja, a indumentária, a mais barata entre todas, permite ao brincante desfilar na avenida como um autêntico fiscal do * alheio, que é o cara ou a mina que chega perto e pede licença ao folião ou foliã para examinar em detalhes o seu * e se certificar de que está tudo nos conformes, cada pequena ruga, o aspecto geral do * e também se se esconde corretamente sob as roupas, sem riscos de aparecer caso se agache numa coreografia mais impetuosa, de modo que se preservem as vergonhas ainda que o * averiguado não esteja nos padrões e seja merecedor até de uma discreta censura ou reprimenda branda.
Mas não terminava aí, garantiu a vendedora, agora realmente satisfeita com esse evento disruptivo em meio à já tradicional predominância de cocares e odaliscas. E voltou de uma gôndola nos fundos com uma máscara típica dos novos tempos: a de curador moral de fantasias, ou seja, aquele profissional formalmente encarregado de dar o aval final ao uso de uma determinada fantasia, competindo a ele cancelar ou não a licença emitida por si mesmo para que outrem faça proveito daquelas vestes num bloquinho ou na gandaia da praça.
Assim, seguia a diligente funcionária, ao curador e apenas a ele é franqueado vetar roupas de índio ou índia (salvo se em condição de Alessandra Negrini, e apenas nesse caso), pirata (ofensa contra pessoas caolhas e com pernas de pau), personagens de desenhos da Disney (sobretudo se Elsa, por sua situação patológica que a faz estar sempre gelada e portanto fora do convívio com outros humanos de sangue quente) ou de quaisquer outros tipos (animados ou inanimados) que se sintam de alguma maneira ofendidos por se verem retratados com galhofas num contexto de inversão de papéis como é o do Carnaval.
Desconfiado, questionei se aquilo não estava passando do ponto e sugeri cancelar essa fantasia de curador de fantasias, mas ela me falou que isso era uma tautologia e que, no momento mesmo em que eu cancelasse uma fantasia de cancelador de fantasias, automaticamente passava a vestir aquela fantasia de cancelador.
Confuso com esse raciocínio circular, solicitei à vendedora algo mais discreto, tradicional ou incontroverso, que não me trouxesse problemas nos bloquinhos da Gentilândia ou da Praia de Iracema. Foi aí que a moça voltou com uma bata branca e uma bandeja. “Era o sommelier de loló”, explicou, “um especialista que atesta se a iguaria faz muito mal ou apenas pouco e quais os efeitos se misturada com Corote blueberry”. Saí de lá satisfeito.
Procurei então ajuda com uma vendedora, que me disse sorridente que, a pedido do gerente, precisou renovar as prateleiras de última hora depois de um surto de procura por peças que antes estavam encalhadas ou cuja fabricação jamais fora cogitada por nenhuma costureira ou artesã de Fortaleza.
E citou como exemplo a fantasia de Fiscal de *. Ante minha expressão de surpresa, ela cuidou em explicar em pormenores. Vendida a módico R$ 1,99, continuou a simpática funcionária da loja, a indumentária, a mais barata entre todas, permite ao brincante desfilar na avenida como um autêntico fiscal do * alheio, que é o cara ou a mina que chega perto e pede licença ao folião ou foliã para examinar em detalhes o seu * e se certificar de que está tudo nos conformes, cada pequena ruga, o aspecto geral do * e também se se esconde corretamente sob as roupas, sem riscos de aparecer caso se agache numa coreografia mais impetuosa, de modo que se preservem as vergonhas ainda que o * averiguado não esteja nos padrões e seja merecedor até de uma discreta censura ou reprimenda branda.
Mas não terminava aí, garantiu a vendedora, agora realmente satisfeita com esse evento disruptivo em meio à já tradicional predominância de cocares e odaliscas. E voltou de uma gôndola nos fundos com uma máscara típica dos novos tempos: a de curador moral de fantasias, ou seja, aquele profissional formalmente encarregado de dar o aval final ao uso de uma determinada fantasia, competindo a ele cancelar ou não a licença emitida por si mesmo para que outrem faça proveito daquelas vestes num bloquinho ou na gandaia da praça.
Assim, seguia a diligente funcionária, ao curador e apenas a ele é franqueado vetar roupas de índio ou índia (salvo se em condição de Alessandra Negrini, e apenas nesse caso), pirata (ofensa contra pessoas caolhas e com pernas de pau), personagens de desenhos da Disney (sobretudo se Elsa, por sua situação patológica que a faz estar sempre gelada e portanto fora do convívio com outros humanos de sangue quente) ou de quaisquer outros tipos (animados ou inanimados) que se sintam de alguma maneira ofendidos por se verem retratados com galhofas num contexto de inversão de papéis como é o do Carnaval.
Desconfiado, questionei se aquilo não estava passando do ponto e sugeri cancelar essa fantasia de curador de fantasias, mas ela me falou que isso era uma tautologia e que, no momento mesmo em que eu cancelasse uma fantasia de cancelador de fantasias, automaticamente passava a vestir aquela fantasia de cancelador.
Confuso com esse raciocínio circular, solicitei à vendedora algo mais discreto, tradicional ou incontroverso, que não me trouxesse problemas nos bloquinhos da Gentilândia ou da Praia de Iracema. Foi aí que a moça voltou com uma bata branca e uma bandeja. “Era o sommelier de loló”, explicou, “um especialista que atesta se a iguaria faz muito mal ou apenas pouco e quais os efeitos se misturada com Corote blueberry”. Saí de lá satisfeito.
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