Pular para o conteúdo principal

NO BOSQUE salpicado de PINHEIROS

O que sabem a respeito de escotilhas? E espaços intra-urbanos? Bom, eu também. Nada. Mas vou me virando como posso.

Sim, escotilhas. Quero saber mais. São escuras por dentro. Trazem “quarantine” à porta. Não têm volta. Ou aparentam não tê-la. Guardam segredos, armas, vitaminas, bicicletas ergométricas e, bem... Guardam centrais de informação. A que servem? “I don’t know”.

Cara, mas quem sabe?!

Entupi a coluna ao lado com os blogs e sites prediletos – que não é a palavra exata. Quis dizer os lugares que freqüento. Faço isso por mim mesmo. Preciso ler. Atualizar é a palavra. Blogs são geladeiras. Os adesivos de gás de cozinha e água são as informações.

Tenho muito a dizer e pouco tempo. Roberto Bolaño é melancólico. Portanto, não se atreva a lê-lo entre meia-noite e cinco da manhã. Faz mal. Eu disse: entre meia-noite e cinco da manhã. Faça outra coisa. Tem algum jogo no computador? Porque B é mais pesado que matar zumbis aos montes. Mais pesado que construir sociedades beligerantes que destruirão civilizações mais frágeis e tecnologicamente vulneráveis. Bem mais. Só li dois contos, mas sei que é.

Hoje me perguntei: o que espero de 2009? Descabido.

Há 100 anos, Machado de Assis morria. Quer dizer, a data exata é: 29 de setembro de 1908. Às 3h20 da madrugada. No dia seguinte, todos acordaram e tomaram café. Tocaram o barco sem Machado. Tocam até hoje.

O que Machado sabia sobre a escotilha? Certamente teria algo a dizer sobre os números. Desconhecia “the others”? Duvido. O Bruxo sabia muita coisa - muita coisa. Por isso teve de morrer. Mais dia, menos dia acabaria escrevendo sobre o paralelo 4611/456. Sobre milagres. Conjunções aditivas.

Uma vez participei de uma coletiva virtual com Paulo Coelho. Ele disse que as pessoas vivem apontando os erros gramaticais nos seus livros. “Elas só se preocupam com as conjunções aditivas”, falou. Alguém respondeu que seus livros não valiam um tostão furado. Eram malescritos, continham erros grosseiros. Perguntou se ele, o Mago, não tinha dinheiro suficiente para pagar um bom revisor. Mas Coelho só queria saber das conjunções aditivas. Foi curioso. Paulo Coelho passou todo o tempo dando safanões no microfone. Parecia nervoso. O barulho incomodava, claro.

Você quer saber mais sobre conjunções aditivas? Passe aqui.

Por falar em ligações suspeitas, vejam como é a vida. Sem querer caí aqui. Estava andando feliz na blogosfera quando de repente, não mais que de repente alguém cuja face obviamente não tive tempo de ver me empurra. E lá fui eu. Ladeira abaixo ou acima, porque na rede não planos ou relevos ou mesmo uma GEOGRAFIA precisa.

Você aí que desfila à-toa nas madrugadas quentes da cidade: por favor me explica como vim/fui parar nesse lugar. Acho que fui mesmo tragado.

“Vai dar tudo certo”. Ouço isso todo dia. Alguém me disse que não há muita convicção na propaganda do pastor Neto. Que ele, no fundo escuro da sua mente clara, sabe que nada, nada vai dar certo. Que exorta por exortar, para que as pessoas tenham algo a que se prender no domingo eleitoral e não se percam do rebanho. “Vai dar tudo certo”. Sim, claro que vai. Primeiro, vamos pagar apenas um real no ônibus. Começa dando certo. Depois votamos e vamos embora, torcendo para que não haja segundo turno.

O QUE MACHADO DIRIA SOBRE PASTOR NETO? PIOR: SOBRE O bigode DO PASTOR NETO?!

Daqui a pouco tem debate entre os candidatos à prefeitura de Fortaleza. Sim, debate.

Ouviram? Desmond balança a cabeça afirmativamente.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Museu da selfie

Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por

Cansaço novo

Há entre nós um cansaço novo, presente na paisagem mental e cultural remodelada e na aparente renovação de estruturas de mando. Tal como o fenômeno da violência, sempre refém desse atavismo e que toma de empréstimo a alcunha de antigamente, esse cansaço se dá pela falsa noção da coisa estudadamente ilustrada, remoçada, mas cuja natureza é a mesma de sempre. Não sei se sou claro ou se dou voltas em torno do assunto, adotando como de praxe esse vezo que obscurece mais que elucida. Mas é que tenho certo desapreço a essas coisas ditas de maneira muito grosseira, objetivas, que acabam por ferir as suscetibilidades. E elas são tantas e tão expostas, redes delicadas de gostos e desgostos que se enraízam feito juazeiro, enlaçando protegidos e protetores num quintal tão miúdo quanto o nosso, esse Siará Grande onde Iracema se banhava em Ipu de manhã e se refestelava na limpidez da lagoa de Messejana à tarde. Num salto o território da província percorrido, a pequenez de suas dimensões varridas

Conversar com fantasmas

  O álbum da família é não apenas fracassado, mas insincero e repleto de segredos. Sua falha é escondê-los mal, à vista de quem quer que se dê ao trabalho de passar os olhos por suas páginas. Nelas não há transparência nem ajustamento, mas opacidade e dissimetria, desajuste e desconcerto. Como passaporte, é um documento que não leva a qualquer lugar, servindo unicamente como esse bilhete por meio do qual tento convocar fantasmas. É, digamos, um álbum de orações para mortos – no qual os mortos e peças faltantes nos olham mais do que nós os olhamos. A quem tento chamar a falar por meio de brechas entre imagens de uma vida passada? Trata-se de um conjunto de pouco mais de 30 fotografias, algumas francamente deterioradas, descubro ao folheá-lo depois de muito tempo. Não há ordem aparente além da cronológica, impondo-se a linearidade mais vulgar, com algumas exceções – fotos que deveriam estar em uma página aparecem duas páginas depois e vice-versa, como se já não nos déssemos ao trabalho d