Que esquisito chegar ao final de 2021, algo como correr uma maratona cujo fim não se divisava até outro dia, a fita de chegada sempre afastada a cada metro vencido, como naquele desenho animado em que o coiote tenta capturar a ave muito veloz e nunca a alcança. Assim foi o ano.
Não que tenha corrido, pelo contrário, foi devagar, diria que sadicamente lento, impondo cada segundo e cada minuto com prazer cruel, saboreando o andamento interminável dos 365 dias.
Os meses de janeiro a março, o que se fez deles? Não tenho ideia. O início do ano já perdido no tempo, sabe-se lá onde a gente estava naquele 1º de janeiro, se em casa ou entre gôndolas de supermercado reabastecendo a geladeira de bebida para aguentar a temporada.
E o que dizer de abril e maio, também espiralados em algum buraco negro do calendário, engolidos pela força da voragem, tragados por algum desarranjo zodiacal? De junho a setembro, lembro apenas que fui envelhecendo e, nessa cadência, decidi mudar certos hábitos alimentares por recomendação médica, voltar a andar de bicicleta e reorganizar as estantes do escritório, de modo a que seguissem alguma ordem.
E agora o fim, as duas semanas derradeiras de vinte-e-um. Depois delas é o novo, digo, a gente não sabe, mas quer gostar de saber. A gente não espera, mas quer gostar de esperar. O novo é invenção de desocupado que adotamos como credo, o Papai Noel de adulto, feito correntinha de olho grego e essas coisas esotéricas, mas como é bom que chegue, mesmo que nessas condições de desamparo para tanta gente. Como é bom que haja sempre o tio mais corpulento que se atreve a vestir o gorro vermelho e distribuir uns presentes, mesmo com o hálito de cerveja que passa despercebido das crianças.
Bom deixar o ano pra trás. Os meses que se acumularam, o fevereiro pendendo no juízo feito limite ultrapassado do cheque especial, o agosto galopante, o novembro estridente e o dezembro escaldante.
Apesar do tanto feito e desfeito, dia e noite de energia consumida em conversa besta, a ver se convencia gente a se vacinar, a não se medicar com isto ou aquilo, a abrir a cabeça e pensar um bocadinho antes de fazer qualquer besteira, que saúde não é plataforma política nem caixa de comentário. E assim foi indo.
Mas resisto ao balanço do ano, o gesto de computar perdas e ganhos, o vaivém da balança, ora pendendo pra cá, ora pra lá. Não quero aqui nem depois contabilizar nada, que é tarefa ociosa a esta altura da vida fixar métrica de felicidade, sobretudo num ano como 2021.
Se chegamos, se trazemos os nossos vivos e em bom estado, se conseguimos cruzar o estirão de terra que foi essa andança nos últimos doze meses, há coisa bastante a se comemorar quando o ponteiro aposentar o ano que vai, aos pouquinhos, se ensombrando.
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