Apagar mensagens é uma tarefa para a qual não estou preparado, sobretudo mensagens antigas, de 2009 ou 2011, textos recebidos e enviados quando o mundo era outro e os remetentes, gente cujo paradeiro eu desconheço. Por onde andará o Luciano? E o Valdeci? E a Bárbara? Mas a falta de espaço impõe esse exercício, e então tenho de encarnar Marie Kondo, colocando as coisas no lugar e separando peças pela importância que têm. Incapaz, resolvo tudo excluindo em lotes. Um bloco inteiro de mensagens de novembro de 2010, mais um entre 25 e 28 de junho de 2007, um terceiro sem olhar a que mês se referia – vejo apenas o ano. Aquele é de 2013. Ocorre que nunca é suficiente, e preciso voltar sempre ao ponto de onde havia partido, acionando os botões e selecionando em conjunto ou grupos genéricos as mensagens candidatas ao esquecimento total. E aí, nesse instante, vem essa fisgada, essa pergunta que belisca o juízo: isso me fará falta? E se eu quiser lê-la algum dia, quem sabe? Na dúvida, apago. Procedo assim por meia hora, depois mais meia hora, findas as quais tenho um vazio diante de mim suficiente pra povoar de novas mensagens. Textos que chegam e dos quais já me livro, num ato de prevenção, um ensaio do eu futuro que olha para o agora e pede ajuda para, desde já, ir saneando a casa, cuidando do que importa, zelando por sabe-se lá que limpidez e serenidade que, imagino, talvez passe a cultivar quando 2020 for como 2005 ou 2009, tempos já gastos e perdidos cujo fio tenho dificuldade de capturar nesse todo passado.
Outro dia, por razão que não vem ao caso, me vi na obrigação de ir até a Cidade 2000, um bairro estranho de Fortaleza, estranho e comum, como se por baixo de sua pele houvesse qualquer coisa de insuspeita sem ser, nas fachadas de seus negócios e bares uma cifra ilegível, um segredo bem guardado como esses que minha avó mantinha em seu baú dentro do quarto. Mas qual? Eu não sabia, e talvez continue sem saber mesmo depois de revirar suas ruas e explorar seus becos atrás de uma tecla para o meu computador, uma parte faltante sem a qual eu não poderia trabalhar nem dar conta das tarefas na quais me vi enredado neste final de ano. Depois conto essa história típica de Natal que me levou ao miolo de um bairro que, tal como a Praia do Futuro, enuncia desde o nome uma vocação que nunca se realiza plenamente. Esse bairro que é também um aceno a um horizonte aspiracional no qual se projeta uma noção de bem-estar e desenvolvimento por vir que é típica da capital cearense, como se estivessem oferec...
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