De sábado pra cá, Fortaleza
viveu dias de Valterhugomania. Não via alguém fazer tanto sucesso na Cidade
desde Carlos Rilmar, o príncipe do forró. Aos 45 anos, o autor português Valter
Hugo Lemos, Mãe por adoção, posou pacientemente para dezenas de selfies, nas
quais aparecia ora sorrindo, ora sério.
Também visitou uma comunidade indígena,
onde representou o homem português num encontro de culturas havia muito
esquecido. Respondeu mensagens dos fãs nas redes sociais, que depois respondiam
suas respostas, numa cadeia de interações cujo fio da meada acabei perdendo.
E,
não bastasse a agenda apertada, que incluiu uma ida ao Mercado Central (me
pergunto se foi ao Leão do Sul), o escritor ainda encontrou tempo para tomar um
café com integrantes de um clube de leitura que haviam feito das tripas coração
para tê-lo por uma horinha. E conseguiram. Estavam tão felizes nas fotos quanto
Moroni quando assumiu a Prefeitura interinamente.
Convidado da Bienal do Livro,
Mãe fez chorar metade da plateia e rir a outra metade. E logrou tudo isso com
os pés num par de Havaianas compradas aqui mesmo, numa bodega da Capital. De
camiseta e com uma ecobag a tiracolo no palco do Centro de Eventos, o artista,
também cantor e editor, lembrava um estudante de CH que houvesse chegado até ali
num Pici-Unifor. Mal se punha a falar, no entanto, as pessoas silenciavam. VHM,
como os leitores gostam de chamá-lo, tem, de fato, um condão de encantamento.
De tanto flanar por Fortaleza, passei a considerar a hipótese de que Mãe
realmente se afeiçoou à terrinha. E, como consequência, tentei imaginá-lo
cearense. O modo de falar, os trejeitos, o gosto por mangar. Esticando ainda
mais a corda, pus-me a vê-lo nas festas ou num terminal de ônibus, atendendo
solícito a cada pedido de autógrafo e escrevendo na folha de rosto dos seus
livros, que teriam também outros nomes. E como ele se chamaria? Talvez
Wenderson ou Wallison.
Crônica publicada no jornal O POVO em abril de 2017
Comentários