Um preâmbulo: de repente incerto, ainda
tossindo muito, uma dor no peito. Tudo isso junto produz uma intranquilidade
moderada que vai passar daqui a pouco, mas, enquanto não passa, continua a
batucar de leve no corpo.
Uma advertência: "disposto apesar do cansaço" é algo
que eu diria agora se realmente a disposição superasse o cansaço, o que talvez
se prove verdade apenas dentro de algumas horas, quando as duas forças se
enfrentarem cara a cara no meio do salão de festa.
Um protesto vão: venta bastante para um dia como
hoje. Fecho as portas, cerro as janelas.
Uma platitude: já é setembro. É quase susto. Um pavor de que o ano se apresse a terminar. Peço educadamente que se detenha ainda um bocado antes de sair nessa carreira toda no rumo da esquina.
O retrato: a paisagem da BR 116. Focos de incêndio aqui
e ali, nuvens azuis de fumaça cobrindo a pista, o canteiro central dominado por
lixo, animais pastando à margem das vias, homens protegendo-se do sol em fiapos
de sombra numa parada de ônibus.
Ações corriqueiras: escolho
um bolo na padaria da esquina. Preparo café. Lavo a louça do almoço.
Uma dificuldade: leio três parágrafos de um livro antes de
largá-lo em cima da mesa.
Uma lembrança: ex-fumantes costumam marcar no calendário a data precisa de quando pararam de fumar.
Comigo foi diferente. Um dia, sem dar por mim,
deixei o cigarro em casa.
A esse dia seguiram-se outros e mais outros, de modo que, após todo esse tempo, não podia mais dizer com exatidão em que momento eu de fato havia interrompido um hábito que tinha cultivado ao longo de mais de dez anos.
Foi em abril de 2009. Depois
que meu primeiro casamento terminou, andei pelos quarteirões do bairro sozinho.
Uma caminhada de quarenta minutos ou uma hora. Entrei num bar e comprei
cigarro.
Um medo: às vezes acontece de um carro
frear na alta madrugada, duas ou três da manhã, na esquina da rua Professor
Carvalho com a avenida Pontes Vieira. Quando olho, porém, não é nada.
Uma mensagem: no prédio vizinho há uma luz
permanentemente acesa.
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