Não deixa de ser curioso o surto de pessoas nuas na rua. Mulheres, sobretudo.
Caminhando nuas. Isso mesmo, nuas. Nuas, sozinhas, nas ruas. Exatamente assim, não há confusão alguma. Nuas e ruas rimando na mesma frase e encerrando um mistério insolúvel.
O que convida a pensar sobre muitos assuntos, exceto sobre o real motivo de as pessoas, principalmente mulheres, terem resolvido, aparentemente sem razão, caminhar sem roupas pelas ruas da cidade.
O que tem chamado a atenção de quem passa ou espera o ônibus ou apenas observa da janela de casa ou do apartamento o movimento lá fora, que agora inclui uma mulher nua caminhando na rua, um passo de cada vez, a cabeça levemente inclinada, suportando dignamente sol e chuva.
Todavia, o que faz, na rua, nua, a qualquer hora do dia, uma mulher? A pergunta é intrigante e, de resto, irrespondível.
Porque nua, na rua, uma mulher pode desejar o que estiver ao alcance da imaginação, inclusive nada. Pode também calhar de ir em frente, apenas, sem se deter numa única ideia ou pensamento, sem com isso pretender levantar qualquer bandeira ou militar por qualquer causa. Estão apenas ali, nuas. Na rua.
Uma mulher somente, indo em frente, debaixo de chuva, com uma tatuagem de dragão, livre das roupas. Se acaso alguém lhes telefonar, não poderão atender. Pois estarão na rua.
O que não deixa de ter sua beleza, assim como o surto de homens fantasiados de palhaço duas semanas atrás ou o de borboletas azuis no ano passado.
A beleza que ninguém entende, mas é prontamente acolhida.
A beleza que ninguém entende, mas é prontamente acolhida.