Um último e dispensável parágrafo diz respeito a todos
os parágrafos anteriores, ou seja, relaciona-se tanto à felicidade quanto ao modo
como o tema aparece de forma esquiva logo abaixo, com indicações claras de que,
ainda que estejamos falando há milênios sobre um mesmo assunto, o que fica
evidente é o seguinte: o que está ao alcance de qualquer um é unicamente cavar e
continuar cavando e no esforço de cavar danificar mãos e cegar as ferramentas
e, a despeito disso, continuar, mesmo quando as escoras ameaçarem vergar sob o
peso da areia que foi retirada do buraco e depositada um pouco acima das nossas
cabeças, forçando o teto e estreitando corredores. Mesmo nessas horas, abrir
buracos na terra e esperar que de lá saltem coelhos ou elefantes ou finalmente aquela criatura mágica que estamos procurando faz tempo e que certamente nos fará felizes é tudo que de fato interessa.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...