Um último e dispensável parágrafo diz respeito a todos
os parágrafos anteriores, ou seja, relaciona-se tanto à felicidade quanto ao modo
como o tema aparece de forma esquiva logo abaixo, com indicações claras de que,
ainda que estejamos falando há milênios sobre um mesmo assunto, o que fica
evidente é o seguinte: o que está ao alcance de qualquer um é unicamente cavar e
continuar cavando e no esforço de cavar danificar mãos e cegar as ferramentas
e, a despeito disso, continuar, mesmo quando as escoras ameaçarem vergar sob o
peso da areia que foi retirada do buraco e depositada um pouco acima das nossas
cabeças, forçando o teto e estreitando corredores. Mesmo nessas horas, abrir
buracos na terra e esperar que de lá saltem coelhos ou elefantes ou finalmente aquela criatura mágica que estamos procurando faz tempo e que certamente nos fará felizes é tudo que de fato interessa.
Vista de longe, em seu desenho irregular e mortiço, a mancha parecia extravagante, extraterrestre, transplantada, algo que houvesse pousado na calada da noite ou se infiltrado nas águas caídas das nuvens, como chuva ou criatura semelhante à de um filme de ficção científica. Mas não era. Subproduto do que é secretado por meio das ligações oficiais e clandestinas que conectam banheiros ao litoral, tudo formando uma rede subterrânea por onde o que não queremos nem podemos ver, aquilo que agride os códigos de civilidade e que é vertido bueiro adentro – o rejeito dos trabalhos do corpo –, ganha em nossos encanamentos urbanos uma destinação quase mágica, no fluxo em busca de um sumidouro dentro do qual se esvaia. A matéria orgânica canalizada e despejada a céu aberto, lançada ao mar feito embarcação mal-cheirosa, ganhando forma escura no cartão-postal recém-requalificado e novamente aterrado e aterrador para banhistas, tanto pela desformosura quanto pelos riscos à saúde. Não me detenho na es