Todos os dias, um número cada vez maior de
pessoas se despede das redes sociais. Normalmente, fazem-no com algum
estardalhaço, anunciando a saída aos quatro ventos, imbuindo esse gesto
derradeiro de uma grandiloquência bíblica que não deixa de ser engraçada.
É possível imaginar esses desertores na estação,
um tanto perdidos, acenando para uma esposa deixada para trás, um filho que não
se verá nos próximos cinco anos, um marido largado sozinho por força das
circunstâncias. O drama é real, palpável. Romper com Twitter e Facebook se
tornou tão oneroso quanto abrir mão de coisas essenciais no dia a dia. É uma
doença? Não creio, embora aceite os argumentos de que os sintomas de privação dessas
ferramentas apontam para um quadro clínico seguramente preocupante.
Vamos aceitar o fato de que, não sendo
doença grave, que requer cuidados especiais, correspondem a uma moléstia de
menor proporção. Ainda assim, moléstia. Não uma papeira ou conjuntivite, mas
uma verminose, uma frieira, um bicho-de-pé, uma micose. Incomodam, causam
prejuízos a longo prazo, impõem uma urgência difícil de negociar (tentem
refrear a vontade de coçar um dedo com fieira), mas são facilmente
identificáveis e curáveis. Ou deveriam ser.
Já saí inúmeras vezes do FB, para depois
retornar, cabisbaixo, clicando como se não houvesse amanhã. Depois de algum
sofrimento, durante o qual eu me perguntava frequentemente se era bom para mim continuar
como um espectador dessa felicidade com jeito de embuste que é a matéria-prima
do “livro dos rostos”, resolvi encarar tudo como parte de um êxodo natural. Mais
ou menos como tem sido minha rotina de fumante, marcada por avanços e recuos,
promessas e vergonhas.
Curiosamente, ontem mesmo, a propósito do
cigarro, um amigo admitiu que não se impunha a dolorosa decisão de parar. Não fumava
havia tempos, mas, se lhe perguntassem se tinha parado, respondia que não. “Fumei
quando o Ceará perdeu, no último sábado. Um cigarro, mas fumei”, disse. Foi
inevitável, imagino. Eu também teria tragado um solitário cigarro se já não
tivesse fumado cinco.
Com as redes sociais talvez se dê algo
parecido. Matam lentamente. Se permitirmos, consomem horas e horas do dia. Reorganizam
todo um regime de vida e atividades. São implacáveis com os dissidentes. Quem deixa
normalmente quer voltar. Quem está dentro não vê motivos para sair. Autossuficientes,
criam um universo particular, a partir do qual todo o resto ganha uma coloração
diferente, a depender do ângulo: fora ou dentro.