Acima, encontro familiar em residência no bairro Conjunto Ceará na década de 1970: entes congratulam-se mutuamente e hasteiam bandeira como forma de celebrar os laços inquebrantáveis da vida. Menininha vestida de bailarina canta Macarena à capela
Um objetivo secundário nessa procura, mas
que não pode deixar de ser citado, é a tentativa profilática de escapar da
neurose do cara do apartamento 7, um assassino em potencial, e das síndromes do
velhinho do 13, um homem com tendências a ter muitas tendências estranhas, tão
estranhas a ponto de não caberem numa classificação genérica de problemas
neurológicos ou patologias previstas no DSM 5, ou seja, tendências inclassificáveis,
surpreendentes, ameaçadoras e que em última instância talvez sejam até bem mais que meras tendências, um vocábulo que, agora vejo com clareza, soa inofensivo, e tudo que o velhinho do apartamento 13 não parece ser é inofensivo.
Foi pensando nessas vantagens virtuais que
saí em busca do lar perfeito, aquele apartamento nem caro nem barato, nem longe
de tudo a ponto de consumir todo meu dia num vaivém sem fim, nem perto o
suficiente para que transforme as noites em um pesadelo de pandeiros e bumbos e
garrafas sendo arremessadas de encontro a um poste ou homens bêbados urinando
no tronco de árvores e chamando as garotas para dar uma esticada em algum outro
bar, ainda aberto apesar de muitas pessoas já passarem nas ruas ostentando
olheiras em direção ao trabalho nosso de cada dia.
Foi pensando também em ter um pouco mais de
espaço para fazer as coisas que gosto que passei a questionar com relativa insistência
se a parca área disponível para circulação do atual apartamento não estaria
gerando um paradoxo, qual seja, o de frequentemente ocupar, simultaneamente,
a sala, a cozinha e quase o banheiro, habitando uma zona sem contornos
definidos cujo corolário é provocar certa confusão mental, agravada ainda pela presença marcante de livros e revistas e de um cabide com roupas
estendidas, dois itens freqüentes em salas de estudo e lavanderias,
respectivamente. Logo, ao complexo doméstico inicial formado por sala e cozinha
e quase banheiro, acrescem-se a biblioteca e a lavanderia, resultando no que
venho chamando de “supercômodo matrioska” ou “worm hole doméstico” e
eventualmente de “concentradão hipertrofiado de funções habitacionais”.
Quando tudo que mais queria era apenas um lugar com um pouco menos de muros encaracolados de concertina dando voltas
como enfeites atados à cintura de um brincante de carnaval, menos
fuligem na janela e menos arrombamentos no meio da noite.