Na imagem acima, a autora do artigo Como viver sem ironia, Christy Wampole, em pose que expressa, ironicamente ao mesmo tempo, ambiguidade, sensualidade e inteligência em graus extremos. O texto, publicado originalmente no blog do The New York Times em 27 de dezembro de 2012, pode ser lido na íntegra aqui.
O
que as futuras gerações farão com esse sarcasmo feroz e com o cultivo descarado
da besteira?
A frase me
pegou de calças curtas. De minha parte, como representante legítimo do cultivo
descarado da besteira, não sei o que dizer. É possível viver sem ironia? A pergunta
só pode ser irônica. É possível viver sem indiferença? Plenamente, mas não sem ironia
nem besteira, dois ingredientes fundamentais na cultura de qualquer época.
Somos mais
ou menos irônicos que nossos antepassados? Não sei dizer.
“Nova
Sinceridade”? Acho pomposo e, se querem saber, pouco atraente, mas bastante necessário
nas atuais circunstâncias. Gostaria de colocar em prática hoje mesmo a cartilha
da nova sinceridade.
Começaria
com: isto é água, uma frase que redunda na recomendação: enxergue o mundo e,
por conseguinte, as pessoas.
É preciso
enxergar, estar presente, falar cara a cara e ser sincero.
Concordo com
quase tudo que a autora diz, e também com o que DFW diz, exceto quando se
refere (a autora) às formas de vida não irônicas (crianças, velhos, vegetais e
minerais). Mas aplaudo quando fala que a ironia é um modo preventivo por
excelência. Sim, é.
É a maneira
mais fácil e econômica de se esconder. De se anular por antecipação. Há uma
fronteira delgada entre a ironia como ferramenta expressiva e a ironia
puramente gratuita, típica das redes sociais.
Nem sempre
tênue, é verdade, mas o que importa é que há essa fronteira e que muitas vezes
impera confusão no traslado de uma margem a outra.
A verdade
é que é difícil não embarcar no modo irônico em alta voltagem com tanta oferta
de cultura e meios de expressão. Diria que é um desafio e tanto assistir à vida
de cabeceira e não dar risada, ou não fazer piadinhas engraçadas ou
inteligentes ou criptografadas ou produzidas para nichos específicos da
audiência. Cada vez mais criptografadas, por sinal.
Não há
mais interlocutores – o que há é audiência.
É um
esforço que precisa ser empreendido – precisa mesmo? Aprenderemos com o tempo
ou o que vemos agora é o nascimento de uma geração perdida?
Existe
mais apatia agora do que nas décadas passadas? Aqui o artigo começa a patinar
no moralismo, justamente quando tenta ampliar a discussão sobre ironia, o que
chega a fazer bem, e deduzir as consequências políticas da postura irônica. Mas
posso estar enganado e é provável que esteja, o que não sei agora se se trata
de postura irônica autodefensiva ou preocupação genuína.
Um dos
problemas de agora é conseguir separar o que é sentimento autêntico do
sentimento forjado. Nunca sei quem é quem nas redes sociais – mas as redes
sociais são apenas uma parte do problema. A questão é de origem.
Sempre
que o real se impõe, ele tende a dissipar a neblina da ironia.
Essa frase também me pegou de calças curtas.
Adeptos da Ironia Profunda não arriscam? Talvez o
entendimento sobre o que seja risco tenha mudado com o tempo. Talvez essas pessoas
se arrisquem até mais. E talvez não se arrisquem mesmo e isso não represente em
si um problema.
O risco é algo necessariamente positivo? É possível conceber
uma vida sem riscos ou essa hipótese é uma abominação teórica criada apenas para
efeito retórico?
Volto ao mesmo texto em breve.