Escolher o lugar à mesa do bar quando a
mesa do bar está repleta de pessoas é decisão que envolve uma série de
variáveis. Essas variáveis vão desde a proximidade a alguém cuja mera presença
produz efeitos bastante conhecidos até a afinidade pura e simples, de modo que,
se evitamos ficar longe no primeiro caso, no segundo, por causas naturais e em
se tratando daquele tipo intratável, procuramos nos manter o mais distante
possível, o que nem sempre evita aborrecimentos ao longo da noite ou do dia.
Como se pode perceber, é um jogo matemático
a cujo cálculo somam-se as horas que pretendemos passar no bar, se vamos beber
muito ou pouco, se estamos a fim de conversa séria ou de apenas um bate papo
relaxante, se nosso nível de paciência será capaz de aturar as lamentações de
outrem, se já perdoamos aquela maledicência que nos chegou aos ouvidos por meio
de terceiros etc.
Em resumo: a mera opção pela cadeira à
estibordo ou à bombordo implica inconscientemente razões que a própria razão
desconhece, e nisso incide uma dificuldade que é em grande parte responsável
por aqueles cinco ou dez segundos que perdemos em pé, checando o celular ou o
relógio quando na verdade não temos a mais vaga ideia de onde sentar.
Cinco ou dez segundos gastos integralmente nesse
cálculo mental, operação que manipula, muitas vezes de maneira egoísta, os
ganhos e as perdas que cada alternativa representa.
Quantas vezes já nos arrependemos por
termos sentado muito longe da pessoa com quem o papo geralmente se desenvolve fácil,
espontâneo, sem que seja necessário apelar ao rol de assuntos presumidamente
polêmicos da semana? É um sentimento desagradável perceber, ao cabo de meia
hora de presença à mesa, que, de onde nos achamos, será complicado, quando não
impossível, obter ali algum divertimento.
É quando levantamos a vista do copo de
cerveja e passamos a encarar outras rodas de conversa. Assim como o jardim do
vizinho sempre parecerá mais verde que o nosso, elas exalarão inevitavelmente
mais alegria e frescor que a nossa.
Nessa ocasião, o que é mais correto, meus
caros: levantar e ir embora mais cedo ou, com educação, pedir licença e, desavergonhadamente,
mudar de lado no retângulo? Sob qualquer viés que se encare o problema, é uma
decisão tensa, diante da qual muitos de nós já tombaram, incapazes de assumir as
consequências da escolha feita, seja ela qual for.