Era ainda, escreveu, e talvez já nem fosse tanto, por rápido que se estabelecera aquela ponte, anteprojeto da queda, por repleta que fosse a amarra, cheira a abismo. Não há que antecipar, a avó dizia, nem sofrer por qualquer rejeito, não há que avançar aos trambolhos como o soldado em desejo da morte inimiga, não há, não há, eram tantas regras, desfizera-se rapidamente de cada uma. E ali estava, rente ao muro chalpiscado tarde da madrugada, meio leve, meio bêbado, meio encantado, meio triste, como quem parte em procura de saber: o que a avó faria agora?
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por
Comentários